Leituras recomendadas 169
Guerra fantástica
Por José Nivaldo Cordeiro
Sou aficcionado por filmes de guerra. A guerra é um momento
crucial na existência, seja dos indivíduos, seja dos
coletivos. É um fenômeno caracteristicamente humano e
quando nos referimos à Natureza usando o vocábulo
"guerra" é apenas força de expressão,
uma metáfora, uma projeção
antropomórfica pura. Guerra e História formam uma
unidade indissolúvel. Não A guerra é sobretudo um fenômeno psicológico, uma loucura coletiva que sacrifica homens no altar do deus da morte. Será talvez o instante em que o mal é mais palpável, mais objetivo: quem dela participa vê o fundo dos olhos de Mefisto e é tomado por seu fascínio macabro. Na vida civil o que mais se aproxima desse instante nefando é o crime e a constelação dos que vivem à sua volta: a polícia, a o sistema Justiça, o sistema prisional. Há uma dialética que une profundamente os que praticam a delinqüência e os que punem. Quantas taras e quanta maldade se escondem por trás dos homens que punem, que supostamente praticam a Justiça? Quanto de carrasco de inocentes não compõe a psique de um promotor, um juiz e um policial? Temo que freqüentemente o agente da lei possui uma psique muito mais criminosa e muito mais perigosa do que aqueles que são flagrados em delito. Sobretudo agora que vivemos tempos de relativismo moral e jurídico. Infelizmente, na justiça estatal não há lugar para o perdão e para a redenção, apenas para o castigo, para a vingança e para a subjugação do indivíduo. Como na guerra.
Por isso que gosto tanto de filmes de guerra e de filmes com
temática policial. Se os filmes são artisticamente bem
feitos, eles encantam porque conseguem retratar em profundidade a
psique humana. Toda obra de arte de valor - e não apenas as
do cinema - devem ter como ponto focal a redenção
humana, o que equivale a abordar sem medo e sem nenhuma pieguice o
mal
Malgrado a malvadeza e a crueldade da guerra, ela acaba por ter um
lado benéfico, que foi reconhecido e estudado por muitos
autores importantes. Voegelin, por exemplo, afirma a sua necessidade
para o restabelecimento do equilíbrio perdido na sociedade
política. A guerra também acaba por se tornar uma
terapia coletiva, exorcizando o mal que acomete a coletividade
O curioso é que na História do Brasil registramos
muito poucas guerras, sempre episódicas e de pequena
dimensão. Nosso povo jamais viveu o que a Europa, os EUA, o
Japão, a Rússia, o Continente africano viveram. Se foi
uma dádiva para as gerações passadas, desconfio
que esse fato pode ter gerado
E, claro, o primeiro sacrificado em tudo isso é a
razão. Quem vive no Brasil de hoje pode compreender a
plenitude do significado da expressão do livro de
Eclesiastes: "Muito conhecimento, muito desgosto; quanto mais
conhecimento,
Para aqueles que não se deixam enganar pelo remanso suave da
maré e sabe queo maremoto se aproxima, só resta fazer
como o general que comanda os soldados no campo de batalha,
personagem do filme "Platoon", de Oliver Stone, que ao ver
o inimigo invadir o seu quartel-general ordena que a Força |