Leituras recomendadas 155
Sierra maestra nos gabinetes
Por Percival Puggina
Existem algumas coisas que basta abrir a janela para ver. Assim, quem quiser saber o que seria o Brasil se os companheiros treinados em Moscou e Havana, espalhados em todo o país ou acantonados nas Forças Guerrilheiras do Araguaia, tivessem conquistado o poder, basta dar um pulinho até a ilha do doutor Castro ou, mais econômico, ler o livro com o mesmo nome. Muitos que hoje falam sobre democracia, e apontam, com dedo bem duro, certos desvios ocorridos durante os governos militares, teriam feito muito mais e bem pior se tivessem realizado suas intenções. Não eram e não são democratas. Mas os tempos mudaram. Hoje, os caminhos para a tomada do poder são mais sutis. Basta continuarem a fazer o que vêm fazendo: infiltrar-se nas organizações dedicadas à cultura, nas redações dos jornais, nas comunidades religiosas; pregar a tolerância para com quaisquer movimentos que afrontem o Estado de Direito; e insinuar-se nas escolas, cursinhos e universidades para ali promover aberta e persistente pregação (dizia-me ainda hoje um estudante que, no seu pré-vestibular, os professores se dedicam muito mais à pregação ideológica do que aos conteúdos). Antonio Gramsci plantou na Itália e colheu no Brasil. Se mesmo assim não funcionar, está sendo calçado o sapato para um outro e mais sinistro passo, que será dado com a conquista, lenta mas determinada, do Poder Judiciário. Por esse caminho, no Brasil de hoje, é perfeitamente possível fazer uma revolução sem precisar se incomodar com o estampido das armas. Pergunto: não é objetivo de toda revolução emascular o direito legislado para dar vigência à sua ideologia? Ora, uma caneta é mais silenciosa e mais eficiente do que um fuzil. E um gabinete com ar condicionado, bem mais confortável do que as encostas de Sierra Maestra. Mas o resultado pode ser o mesmo. |