Leituras recomendadas 138
A teoria econ�mica de Lord Keynes e a ideologia triunfante do nosso tempo
Por Alceu Garcia
Introdu��o Dificilmente se passa uma semana sem que o economista brit�nico John Maynard Keynes (1883-1946) seja louvado por escritores e colunistas de nomeada, especialistas na mat�ria ou n�o, como o genial autor de uma revolu��o copernicana na economia e um grande benfeitor da humanidade. O cultuado escritor L.F. Ver�ssimo elogiou o "esp�rito p�blico" de Keynes em sua coluna em O Globo, e lamentou que a vis�o ego�sta e os interesses imperialistas dos americanos tenham prevalecido sobre os prop�sitos benevolentes do ingl�s no acordo de Bretton Woods. Uma ativista americana que participou do recente F�rum Social Mundial de Porto Alegre, entrevistada pelo JB, concitou a humanidade a adotar pol�ticas keynesianas para redimir os bilh�es de miser�veis do planeta. A �ltima moda da esquerda festiva parisiense � uma estridente propaganda em prol da dita "taxa tobin" sobre movimenta��es financeiras internacionais, inspirada em estudo de James Tobin, economista americano da melhor estirpe keynesiana. O jornalista Cesar Benjamim, remanescente do marxismo-leninismo ortodoxo, escreveu em artigo na Caros Amigos que a Lei da Responsabilidade Fiscal, que limita as despesas p�blicas � arrecada��o, � nociva, de vez que os gastos deficit�rios do estado possuem um efeito multiplicador que espalha a prosperidade e resulta em aumento na arrecada��o futura, recobrando o equil�brio or�ament�rio em outro n�vel. Isso n�o � nem Marx, nem Lenin; � macroeconomia keynesiana pura. Curiosamente, no n�mero seguinte do mesmo peri�dico Benjamim proferiu um candente libelo contra... a macroeconomia! No universo dos especialistas o prest�gio do luminar de Cambridge � ainda maior. O ex-ministro do governo Sarney e banqueiro Jo�o Sayad, aquele mesmo respons�vel pelo fracassado Plano Cruzado e que hoje atormenta os paulistanos como secret�rio de finan�as da prefeita Dona Marta, exalta Keynes frequentemente em suas lacrimosas colunas no JB, salientando que o ingl�s foi o primeiro a manifestar interesse pela quest�o do desemprego e em como salvar os trabalhadores das garras do capitalismo predat�rio Os economistas respons�veis pelo projeto econ�mico do PT, Guido Mantegna, Luiz Beluzzo, o pr�prio Sayad e outros, baseiam-se muito em Keynes e pouco em Marx, o contr�rio do que normalmente se esperaria de um partido de extrema-esquerda. N�o menos keynesianos s�o os economistas do PSDB "aut�ntico", pontificando entre eles outro ex-ministro de Sarney e comandante de mais um desastrado "plano", Bresser Pereira. A revista Rep�blica, hoje o ve�culo semi-oficial da candidatura Serra, n�o poupa elogios a Keynes e invectivas contra o superado neoliberalismo do americano Milton Friedman. O colunista do New York Times Paul Krugman, cujas diatribes ultra-keynesianas s�o reproduzidas em alguns jornais brasileiros, � acatado por seus cong�neres tupiniquins, acad�micos ou n�o (com a exce��o de Gustavo Franco), como a m�xima autoridade mundial em economia. Os ju�zos de Krugman produzem em nosso pa�s um efeito categ�rico de Roma locuta, causa finita. Os exemplos dessa profunda identifica��o entre o pensamento e a propaganda esquerdista com Keynes e suas id�ias s�o in�meros. O curioso, por outro lado, � que tamb�m certa direita reinvindica Keynes como um de seus patronos. Basta lembrar de Delfim Netto e Mario Henrique Simonsen, ministros do regime militar e adeptos das teorias keynesianas, os quais dirigiram a mais extensa invas�o do dom�nio econ�mico pelo estado na hist�ria do nosso pa�s e fizeram da economia brasileira uma das mais estatizadas do mundo. Liberais como o falecido J.G. Merquior tamb�m relacionam Keynes como um eminente pr�cer do liberalismo. Tudo isso � bastante perturbador e inconclusivo. Afinal, Keynes foi um socialista, conservador ou liberal? Talvez suas inova��es cient�ficas simplesmente sejam rigorosamente irrefut�veis e, portanto, ideologicamente neutras, n�o podendo responder por apropria��es indevidas, por todas as correntes pol�ticas, da verdade apoditicamente demonstrada. A proposta desse ensaio � tentar elucidar esse enigma, desvendando a verdadeira filosofia social do economista brit�nico e sua posi��o no quadro do pensamento econ�mico, ideol�gico e pol�tico contempor�neo. Keynes e Suas Circunst�ncias Filho de um renomado economista, educado em Eton e Cambridge, membro da melhor sociedade brit�nica, Keynes formou-se em um tempo em que a elite pensante inglesa questionava e negava os valores de seu meio social, inclinando-se vigorosamente para o socialismo. O triste espet�culo dessa elite decadente, niilista e descrente dos princ�pios morais at� ent�o vigentes evoca fen�menos similares ocorridos em outras �pocas e contextos. A degenera��o moral das aristocracias grega e romana relatadas, por exemplo, por Pol�bio, T�cito e Petr�nio, a meu ver tem muitos tra�os em comum com o estado da intelligentsia inglesa no tempo de Keynes. Quando a classe dirigente de uma cultura perde a confian�a em si mesma e em seu papel hist�rico, essa cultura est� perdida. Parece-me que coisa do tipo aconteceu na Inglaterra a partir de meados do s�culo 19. Conduzida por uma elite vigorosa e confiante, a Gr�-Bretanha inventou o liberalismo pol�tico no s�c. 17 e, quebrando as cadeias que tolhiam a criatividade e iniciativa individual, criou as condi��es para o florescimento espont�neo da moderna economia de mercado. Liderou o mundo por muito tempo no plano comercial, tecnol�gico, industrial, financeiro, pol�tico e intelectual. Por�m, a partir de certo momento esse dinamismo principiou a arrefecer. A trajet�ria intelectual de John Stuart Mill, o pensador mais eminente de sua �poca, revela os contornos desse processo. De um ponto de partida liberal, Mill gradualmente e sutilmente inclinou-se para posi��es simp�ticas ao socialismo. Essa transmuta��o do liberalismo em socialismo, capturada no nascedouro com maestria pela pena prof�tica de Herbert Spencer (The Man Versus the State), se completou com a Sociedade Fabiana (1883), nome inspirado no general Fabius Maximus, que salvou Roma evitando travar batalha em campo aberto com o grande comandante cartagin�s An�bal, recorrendo ao inv�s a m�todos indiretos de guerra. A Sociedade Fabiana era um grupo formado por intelectuais ativistas do high society liderados pelos milion�rios Sidney e Beatrice Webb (Lord e Lady Passfield), adeptos de uma estrat�gia pol�tica gradualista, que se dedicava a doutrinar o estamento superior da sociedade brit�nica, apossar-se dos canais de difus�o de id�ias, do aparato estatal, da Igreja, das artes, dos sindicatos e tudo o mais que fosse �til � implementa��o de um governo socialista. O dramaturgo George Bernard Shaw, por exemplo, foi uma das estrelas do movimento fabiano, que mais tarde deu origem ao Labour Party. A enorme influ�ncia do socialismo fabiano marcou profundamente a forma��o intelectual e moral de Keynes. Ele integrou uma sociedade secreta em Cambridge conhecida como Os Ap�stolos e posteriormente a confraria de letrados ilustres denominada Grupo de Bloomsbury, ambas subprodutos do caldo cultural do fabianismo. Hedonismo, niilismo, elitismo, iconoclastia, bissexualismo, pedantismo, amoralismo e, claro, socialismo, eram os tra�os comuns aos integrantes desses gr�mios. O fil�sofo G.E. Moore, um dos gurus m�ximos da tchurma, autor de um livro intitulado Principia Ethica, exerceu forte atra��o sobre Keynes. Para Moore n�o existiam princ�pios morais universais, reduzindo-se a �tica aos prazeres est�ticos pessoais. N�o � poss�vel compreender o car�ter de Keynes, nem sua atua��o pol�tica e sua produ��o cient�fica, isolados do contexto ideol�gico em que ele atuou. E os tra�os chave da natureza do economista brit�nico eram: relativismo moral e desonestidade intelectual. Keynes, o Polemista N�o � preciso estender-se muito a respeito da terr�vel ruptura que a Primeira Guerra Mundial significou para o mundo relativamente est�vel, aberto e progressista da Belle Epoque. O conflito abriu uma caixa de p�ndora e libertou dem�nios cujos males ainda se fazem sentir em nossos dias. Keynes, �quela altura um economista jovem e promissor, serviu no departamento do tesouro ingl�s durante a guerra. Ap�s o conflito, ele foi designado para a delega��o brit�nica encarregada de elaborar o Tratado de Versalhes. No curso das delibera��es Keynes discordou da pol�tica de impor pesadas repara��es � Alemanha vencida e rompeu publicamente com seus superiores, para a alegria de seus amigos fabianos. Publicou ent�o o livro The Economic Consequences of the Peace (1920), que o transformou em celebridade mundial instant�nea. Nesse panfleto, Keynes lamentava a sorte dos alem�es e condenava o esp�rito de vingan�a e rapacidade dos vencedores. Ridicularizou os l�deres aliados Lloyd George, Clemenceau e o Presidente Wilson, pintando-os, com riqueza de detalhes, como figuras pat�ticas e grosseiras. Insinuou que a culpa da guerra era tanto dos vencedores quanto dos vencidos e afirmou categoricamente que a Alemanha n�o teria condi��es de pagar as d�vidas impostas e que a insist�ncia em sua cobran�a acarretaria a morte pela fome e doen�as de milh�es de crian�as alem�s. Essa avalia��o dos fatos e as previs�es de Keynes foram devidamente refutadas mais tarde por Ludwig von Mises (Omnipotent Government) e �tienne Mantoux (The Carthaginian Peace). A culpa inequ�voca do governo alem�o j� est� mais do que demonstrada pela pesquisa hist�rica, e foi ali�s explicitamente confessada pelo chanceler do Kaiser Bethmann Hollweg em suas mem�rias. O montante das repara��es n�o era t�o grande em propor��o ao produto nacional alem�o, e a insist�ncia no seu pagamento teria inviabilizado, ou pelo menos atrasado, o programa de rearmamento iniciado ainda em fins da Rep�blica de Weimar e acelerado subsequentemente por Hitler. Mas nada poderia impedir que uma t�o brilhante pe�a de argumenta��o er�stica, perfeitamente consonante com o zeitgeist, o esp�rito da �poca, fizesse enorme sucesso. O livro de Keynes foi habilmente aproveitado pela propaganda nacionalista alem�, inclusive a nazista, para fomentar a atmosfera de complac�ncia internacional que facilitou a ascens�o posterior de Hitler. N�o � argumentar ad absurdum afirmar que Keynes forneceu v�rios dos tijolos para a constru��o dos muros dos futuros campos de concentra��o nazistas. Tendo provado o gosto da fama liter�ria e midi�tica, Keynes nunca mais abandonou as pol�micas p�blicas, tornando-se um intelectual opinativo e requisitado pela imprensa, tal como tantas figuras similares em nosso pa�s. V�rios de seus artigos dessa safra foram reunidos e publicados sob o t�tulo Essays in Persuasion (1932), onde o leitor atual pode se deliciar com o estilo florido e admirar a habilidade sof�stica do autor. Ele n�o perdia uma oportunidade de escandalizar, de soar her�tico. "Epater le bourgeois", como dizem os franceses. Subjacente ao prest�gio popular de Keynes estava a sua autoridade como economista. A economia na �poca j� se tornara uma ci�ncia altamente especializada e inacess�vel aos leigos gra�as ao crescente formalismo matem�tico e geom�trico, bem como o desenvolvimento de um jarg�o pr�prio inintelig�vel. Longe iam os dias em que os n�o-especialistas cultos compreendiam com relativa facilidade os teoremas enunciados no bom e velho racioc�nio dedutivo verbal por Adam Smith, David Ricardo e outros, e podiam acompanhar ativamente as pol�micas travadas pelos grandes nomes da �rea. Cabe aqui observar que o complexo verniz matem�tico utilizado pelos economistas modernos encobre proposi��es bastantes simples e perfeitamente pass�veis de serem expressas em l�gica discursiva. Trata-se de uma viola��o do princ�pio do m�todo cient�fico conhecido como navalha de Occam, segundo o qual, resumindo grosseiramente, n�o se deve complicar desnecessariamente o que pode ser enunciado de modo mais simples. A pan�plia de curvas, equa��es e modelos matem�ticos serve para dar aos economistas a ilus�o de contarem com um instrumental metodol�gico altamente cient�fico, copiado das ci�ncias exatas, que confunde e atemoriza o n�o-especialista. Mas acima de tudo serve para ocultar o absurdo e a ilogicidade de suas proposi��es b�sicas, que, se expostas claramente, n�o enganariam nenhum cr�tico inteligente. Quem duvida, deveria experimentar ler os textos acad�micos de gente como Simonsen, Sayad, Beluzzo, Kandir e Z�lia Cardoso e, da pletora de equa��es e diagramas, extrair deles os postulados essenciais que fundamentam seus encadeamentos l�gicos. Quem fizer isso vai compreender imediatamente o nexo de causalidade entre os paralogismo s obtidos e os desastres sociais por eles causados em nosso pa�s. De todo modo, Keynes certamente foi um dos que mais contribuiu para turvar a ci�ncia econ�mica com essa finalidade. Mas que esp�cie de economista era Keynes afinal? Keynes, o Economista Em Cambridge, Keynes foi disc�pulo de Alfred Marshall, tido como uma das maiores autoridades mundiais em ci�ncia econ�mica de seu tempo. O trabalho de A C Pigou tamb�m o influenciou muito. Mais tarde, em sua obra mais famosa, A Teoria Geral, Keynes rompeu com seus mentores, classificando-os como "cl�ssicos", apegados a uma superada concep��o ricardiana e laissez-faire da economia. Mas era assim realmente? Marshall na verdade atrasou bastante a evolu��o do pensamento econ�mico, insistindo na insustent�vel teoria objetiva do valor. Para ele o custo "real" das mercadorias era t�o importante na forma��o dos pre�os quanto a utilidade subjetiva dos demandantes, recusando-se a reconhecer que o custo � um fen�meno sempre subjetivo (custo de oportunidade). Quanto a Pigou, foi um dos mais acatados pioneiros da teoria do welfare state, do estado provedor de bem-estar e redistribuidor de renda. Seu livro mais famoso, The Economics of Welfare, da d�cada de 1910, lido hoje, surpreende pela atualidade. � um minucioso projeto do Estado Previdenci�rio plenamente - e infelizmente - realizado ao longo do tempo. � curioso que esses dois autores, que n�o nutriam grande simpatia pelo capitalismo laissez-faire, tenham sido acusados por Keynes de representarem justamente a quintess�ncia do capitalismo laissez-faire. Essa contradi��o ostensiva ocultava uma bem urdida armadilha sof�stica: Marshall j� n�o estava entre os vivos para defender sua posi��o "cl�ssica", e Pigou dificilmente vestiria a carapu�a de campe�o do capitalismo. O mais prov�vel � que ele acabasse se identificando com o novo sistema keynesiano, o que, ali�s, ap�s alguma relut�ncia, acabou de fato acontecendo. O verdadeiro n�cleo do pens amento econ�mico liberal era bem outro, a escola austr�aca, muito mais s�lida em seus fundamentos do que a amb�gua e inconsistente escola de Cambridge. A t�tica de Keynes consistiu em evitar o combate direto com os austr�acos, ignorando-os e afastando-os sub-repticiamente do �mbito relevante da discuss�o. No tribunal constitu�do por Keynes para julgar o capitalismo ele era o promotor e o juiz, e ainda nomeou o pior advogado de defesa poss�vel para o r�u. � de admirar que o capitalismo laissez-faire tenha sido condenado inapelavelmente? Mas isso veremos com detalhes mais adiante. Digress�o sobre Marx O leitor mais atento j� ter� percebido que o terreno est� sendo preparado para Keynes esbo�ar seu sistema econ�mico anti-capitalista, ou, o que d� no mesmo, socialista. Mas essa tarefa j� n�o teria sido cumprida � contento por Karl Marx? A resposta � um inequ�voco "n�o". Marx ergueu sua doutrina sobre o alicerce da teoria do valor cl�ssica, estando, pois, sujeito aos mesmos v�cios e limita��es que afetavam o seu modelo. Quando a doutrina econ�mica marxista emergiu de sua obscuridade inicial em fins do s�culo 19 e reclamou um lugar de honra no panorama te�rico da disciplina, j� encontrou um novo e firme edif�cio cient�fico erigido a partir das descobertas dos pioneiros do marginalismo, na d�cada de 1870. Descartada a teoria cl�ssica do valor-trabalho, o marxismo, que dela deduzia todo o seu sistema, tamb�m so�obrou. Autores treinados na nova t�cnica como E. Bohm-Bawerk, P. Wicksteed e V. Pareto analisaram e refutaram as teses marxistas com a maior facilidade. O marxismo foi portanto barrado na porta de entrada do templo da respeitabilidade cient�fica no campo da economia, e ficou confinado a guetos ortodoxos estagnados que n�o eram levados a s�rio fora de seu c�rculo. A fus�o de uma teoria econ�mica errada com a nefelib�tica filosofia da hist�ria de Hegel gerou um monstrengo teor�tico eficaz apenas como misticismo ideol�gico. � plaus�vel a tese de que as massas prolet�rias geradas pelo industrialismo expropriariam a burguesia opressora, dissolvendo o estado e dando fim � luta de classes para sempre, inaugurando assim o reino da abund�ncia sobre a terra? � muito mais razo�vel conceber a "vanguarda do proletariado", ou seja, os intelectuais ativistas, como uma classe em si mesma, distinta do e oposta ao proletariado, �vida de poder, e pronta a tomar posse do aparato estatal e se fazer nomenklatura por tempo indeterminado, esmagando brutalmente qualquer tipo de oposi��o, real ou imagin�ria. Foi precisamente isso o que aconteceu, e at� mesmo marxistas como Trotsky e Rosa Luxemburgo tiveram a lucidez de antever esse desfecho. Marx no fim das contas n�o passou de um pretensioso socialista "ut�pico", ainda mais ing�nuo e abstruso do que aqueles seus antecessores que t�o severamente criticou. Para reinvidicar aten��o, um economista marxista tinha que ser bem pouco marxista e muito neocl�ssico. V�rios esp�cimens desse estranho animal estavam entre os estudiosos que compunham a entourage de Keynes em Cambridge, conhecida como O Circo, tais como Joan Robinson, M. Kalecki e P. Sraffa. O pr�prio Keynes, por�m, nunca se importou muito com o marxismo, no qual ele via, com raz�o, um desvio grotesco do sistema de Ricardo. Marx fracassou completamente na miss�o de elaborar a teoria econ�mica do socialimo, ou, o que � a mesma coisa, refutar a economia como ci�ncia e invalidar as regularidades inexor�veis dela inferidas, e Keynes sabia disso. Ele mesmo, pois, dedicou seus melhores esfor�os para ser bem-sucedido onde seu irado antecessor alem�o falhara. Te�rico ou Ide�logo? Uma vez consolidado o seu prest�gio popular, e seguro de suas credenciais acad�micas (lecionava em Cambridge e era editor do afamado peri�dico especializado Economic Journal), Keynes direcionou suas baterias para a alta teoria econ�mica. Cabe aqui um par�ntese para refletir sobre as qualidades necess�rias a um verdadeiro homem de ci�ncia: intelig�ncia, cultura, dedica��o, objetividade e sobretudo honestidade intelectual. Keynes sem d�vida era muito culto e inteligente, mas carecia de honestidade. Um estudioso s�rio deve formar ju�zo definitivo sobre a mat�ria investigada somente ap�s a investiga��o, ou pelo menos ter a coragem de admitir que o estudo rigoroso contraria as opini�es pr�-concebidas, quando isso acontecer. Keynes nunca foi um te�rico. Era um ide�logo. Partia de posi��es firmadas antes de empreender suas an�lises, as quais eram cuidadosamente moldadas de maneira a apoiar essas posi��es, afastando toda prova em contr�rio e todos os cr�ticos mediante artif�cios er�sticos. Esse modo de proceder � muito mais comum nos meios cient�ficos do que se pensa, sobretudo nas ci�ncias sociais, em que a prova rigorosa dos teoremas � menos certa do que nas ci�ncias exatas. Da� para a subjuga��o de v�rios ramos do conhecimento pelo mais descarado charlatanismo ideol�gico � s� um passo. Somos testemunhas, atualmente, desse fen�meno em disciplinas como sociologia, antropologia, hist�ria e sobretudo filosofia, pervertidas por farsantes de todo o tipo e reduzidas a lament�veis mistif�rios. A economia n�o teve destino diferente. O resultado disso � socialmente catastr�fico, vez que o charlatanismo econ�mico afeta diretamente as vidas de todos os indiv�duos. N&oacut e;s, brasileiros, desafortunadamente temos acumulado larga experi�ncia como v�timas dos incessantes "planos" de pseudo-economistas. A Rel�quia B�rbara A obra te�rica de Keynes foi na verdade anti-te�rica. Seu objetivo era nada mais, nada menos do que demolir a ci�ncia econ�mica como tal e substitu�-la por um simulacro de ci�ncia. Esse f�ra o desejo de muitos pensadores socialistas antes de Keynes. Como Arthur Marget observou, Proudhon, Marx, Veblen, Schmoller, Henry George, Hobson e suas respectivas escolas haviam atacado violentamente a economia, mas todos fracassaram sobretudo por serem outsiders. Keynes, ao contr�rio, estava muito bem situado dentro da cidadela mesma da economia e por isso sua investida foi bem sucedida. Keynes foi um presente de grego dos fabianos para a ci�ncia econ�mica, um cavalo de tr�ia introduzido no cora��o da fortaleza. Seu trabalho subsequente foi o de abrir os port�es para as hordas fabianas ocuparem o terreno. O primeiro obst�culo no caminho de Keynes era o padr�o-ouro. A moeda nasceu espontaneamente do interc�mbio social em um sistema de divis�o do trabalho e troca direta de mercadorias. No curso de milhares de anos, o mercado, isto �, os indiv�duos cooperando voluntariamente atrav�s de contratos de modo a que cada um pudesse atingir seus respectivos fins livremente escolhidos, selecionou entre v�rias mercadorias-moeda o ouro e a prata como o dinheiro por excel�ncia. No curso do s�culo 19, o sistema monet�rio internacional passou do bimetalismo (ouro e prata) para o monometalismo, o padr�o-ouro. A libra, o d�lar, o marco, o franco e todas as unidades monet�rias dos pa�ses civilizados eram meras denomina��es de certas quantidades de ouro. As notas e os dep�sitos banc�rios eram resgat�veis � vista, ou seja, tinham que ser convertidos em ouro a qualquer tempo. Qualquer cidad�o, se assim preferisse, poderia trocar notas de dez d�lares pelo seu equivalente em ouro. As implica��es dessa soberania popular no sistema monet�rio eram muito importantes. A oferta de moeda na economia mundial era regulada pelo mercado e n�o pelos pol�ticos e suas "equipes econ�micas". S� haveria mais dinheiro quando se gastasse menos ouro nas atividades de minera��o do que fosse poss�vel extrair das minas. Quem n�o estava nada satisfeito com esse arranjo eram os bancos, e, principalmente, os governos. Os bancos queriam emprestar a juros al�m de suas reservas em ouro, i.e., criar dinheiro do nada com uma simples penada cont�bil. Os pol�ticos desejavam assumir o controle total da moeda e do sistema financeiro, adquirindo o poder de criar dinheiro � vontade e distribu�-lo aos grupos de interesse de sua prefer�ncia, bem como tributar sem controle parlamentar e popular atrav�s da infla��o. A capacidade de inflacionar dos bancos, contudo, era limitada, vez que estender demais o passivo em rela��o �s reservas era um convite � desconfian�a dos correntistas e � consequente corrida contra o banco e a bancarrota. Os governos, por�m, dispondo do monop�lio da for�a, dos tribunais e da pol�cia, gozam de ampla margem de manobra inflacionista. Do concluio entre os pol�ticos e os bancos surgiram muito cedo os bancos centrais estatais, com seus monop�lios de emiss�o de notas com curso for�ado, seu poder de suspender a conversibilidade da moeda em ouro, de suspender os pagamentos, de concentrar as reservas de todos os bancos particulares e permitir-lhes a expans�o do cr�dito em regime de reservas fracionais sob a cobertura do governo. A Primeira Guerra foi um presente dos c�us para a conspira��o pol�tica contra o controle popular do dinheiro. Todos os governos beligerantes suspenderam a conversibilidade da moeda e recorreram � infla��o, ao inv�s da tributa��o direta e aberta, para financiar suas respectivas e vastas despesas b�licas. Ap�s o encerramento do conflito, a opini�o p�blica, ainda sens�vel a antigos preceitos morais como o pacta sunt servanda (os contratos devem ser cumpridos), esperava um retorno ao padr�o-ouro. Na Gr�-Bretanha, ap�s certa relut�ncia, o governo prop�s-se a deflacionar a moeda at� o ponto em que pudesse restaurar a conversibilidade na mesma rela��o libra-ouro de 1914, o que foi feito em 1925. Esse era o estado da quest�o quando Keynes publicou seu primeiro livro "s�rio" de teoria econ�mica, Tract on the Monetary Reform, de 1923. A id�ia central desse livro era que o padr�o-ouro deveria ser abandonado de uma vez por todas e que o controle da quantidade de moeda na economia deveria ser confiado aos bons of�cios dos pol�ticos, essas almas puras inteiramente dedicadas ao bem comum, que se encarregariam de zelar pela estabilidade da moeda e do "n�vel geral de pre�os". Vale notar que a cr�tica de Keynes n�o era de todo infundada. O problema � que a defla��o n�o reverte os estragos causados pela infla��o anterior. Esta implica em redistribui��o de riquezas em favor dos beneficiados pela distribui��o de dinheiro sem lastro pelo governo, ap�s o que um novo equil�brio � firmado. A defla��o n�o beneficia necessariamente os perdedores do jogo inflacion�rio, nem restaura o status quo ante, e sim acresce uma nova redistribui��o de riquezas `a antecedente. Ludwig von Mises ilustrava esse processo dizendo que, depois que o carro atropelou o pedestre, dar marcha-r� n�o vai desfazer o mal perpetrado e sim causar ainda mais dano ao atropelado. A decis�o correta teria sido restaurar o padr�o-ouro na base da nova paridade entre libra e ouro, sem defla��o. A id�ia de Keynes, contudo, ia bem mais al�m, como j� observado. Ele queria o fim do padr�o-ouro tout court. At� hoje sua tirada sat�rica contra o metal precioso, qualificado de "rel�quia b�rbara", � lembrada como condensa��o sof�stica dos argumentos contra o ouro-moeda. O que ningu�m se recorda � da r�plica de Edwin Cannan, economista � moda antiga porqu e por demais apegado � raz�o e � verdade para os padr�es da �poca. Cannan apontou para os campos de batalha ainda fumegantes, onde a fina flor da juventude europ�ia f�ra insensatamente sacrificada aos milh�es. Chamou a aten��o para as hiperinfla��es que naquele mesmo momento evaporavam as economias de dezenas de milh�es de infelizes na Alemanha e alhures, pauperizando-os da noite para o dia. Que prova mais contundente de barbarismo contempor�neo poderia haver? Quando houvera mortic�nio e saque em escala compar�vel em toda a hist�ria? N�o, dizia Cannan, somos mais b�rbaros do que nunca, e a "rel�quia" era por isso mesmo mais necess�ria do que jamais f�ra. O padr�o-ouro era absolutamente indispens�vel para se controlar a insanidade dos pol�ticos. O fato de ter sido Keynes, e n�o Cannan, a prevalecer nesse debate crucial confirma plenamente os argumentos desse �ltimo. O barbarismo triunfou. E muito mais viria no futuro. Hoje todos os governos gozam da prerrogativa de fazer aquilo que proibem sob as mais severas penas aos particulares: falsificar dinheiro. Surfando a Onda da Depress�o Keynes amadureceu seu sistema e publicou seus dois ambiciosos livros de teoria pura na �poca extremamente conturbada da Grande Depress�o dos anos 30. O primeiro, Treatise on Money, de 1930, n�o ser� comentando nesse ensaio, posto que o pr�prio autor renegou-o em parte e o considerou como rascunho inacabado e imperfeito de sua teoria s� plenamente desenvolvida na obra posterior, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de 1936. Digno de nota, entretanto, � que um escritor famoso por sua prosa clara e facilidade de expor o racioc�nio tenha subitamente produzido textos t�o confusos, obscuros e desorganizados como os contidos nos livros mencionados. At� mesmo os especialistas sofreram para decifrar os argumentos centrais de Keynes, o que, ali�s, deu ensejo a que alguns autores (A Hansen, D. Dillard e outros) ganhassem fortunas com a venda de livros que resumiam e explicavam a Teoria Geral. � preciso contextualizar a magnum opus de Keynes. O pesado legado da guerra de 14-18 estorvava a economia mundial com as colossais d�vidas internas e externas dos governos europeus, tanto entre eles pr�prios quanto entre cada um deles e os Estados Unidos, agora feita na��o credora universal. O sistema monet�rio baseado no padr�o-ouro nunca mais se recuperou do colapso de 1914. A infla��o destruiu economias inteiras. A carga tribut�ria subiu �s alturas em toda parte, a fim de suportar as despesas crescentes com as atividades previdenci�rias e assistencialistas dos governos, bem como com a estatiza��o generalizada de empresas privadas, que, ato cont�nuo, deixavam de ser lucrativas e passavam a onerar o tesouro. O poderio dos sindicatos na Europa elevava os n�veis salariais bem acima da produtividade marginal do trabalho, resultando em desemprego. O governo americano, atendendo a interesses setoriais, sobretudo agr�colas, adotou pol�ticas protecionistas que impediam os europeus de exportarem para os Estados Unidos e assim obterem super�vits que os capacitasse a honrar suas d�vidas em d�lar. Em 1920 a economia global desmoronou em uma tremenda recess�o iniciada nos EUA. O desemprego chegou perto dos 20% da for�a de trabalho naquele pa�s e a violenta retra��o espraiou-se para o resto do planeta. Essa, por�m, foi a �ltima crise em que os governos n�o se intrometeram muito. Pre�os e sal�rios ca�ram e logo as propor��es entre pre�os e custos se ajustaram de forma a permitir uma recupera��o r�pida. Em fins de 1921 a economia americana j� tinha se reerguido e o desemprego logo caiu para menos de 4%. Come�ou ent�o uma per�odo de prosperidade global febril, puxada pela locomotiva americana, que padecia, contudo, de graves artificialismos. Como nos anos 90, as novas tecnologias maravilhavam o mundo, os ganhos de produtividade nas ind�strias, que resultavam em aumento da oferta de produtos e baixa dos pre�os, contrabalan�avam a infla��o monet�ria e sua tend�ncia altista, gerando pre�os est�veis. Falava-se muito em "nova economia", em crescimento perp�tuo. Havia por�m perigosos desequil�brios que comprometiam toda a situa��o. As tarifas americanas bloqueavam o com�rcio com a Europa, cujas enormes d�vidas com os EUA, impag�veis por causa dessas mesmas tarifas, inchavam ainda mais com incid�ncia de juros sobre o principal. Para contornar esse gargalo, o banco central americano inundou o mercado financeiro com colossais massas de cr�dito banc�rio barato, que passaram a financiar as aquisi��es europ�ias de produtos americanos (sem resolver as d�vidas pendentes), a estimular a m� aloca��o de recursos em investimentos artificialmente rent�veis gra�as apenas aos juros baixos, e, claro, a alimentar violentos movimentos especulativos que culminaram no grande estouro da bolsa de valores novaiorquina, em outubro de 1929. A crise ent�o deflagrada encontrou um clima intelectual, pol�tico e ideol�gico totalmente intoxicado de socialismo. Os governos, a come�ar pelo americano, decidiram se envolver e curar a doen�a por eles mesmos causada. O New Deal come�ou na administra��o Hoover. O governo pressionou os empregadores a n�o reduzir sal�rios nem demitir, conforme a doutrina da moda de que era o "poder aquisitivo" a chave da prosperidade. Keynes ratificaria mais tarde essa id�ia com seu princ� ;pio da "demanda efetiva". O efeito inevit�vel dessa insensatez foram as fal�ncias em massa e o desemprego sem precedentes. Hoover, e depois Roosevelt, empregaram fortunas em obras p�blicas in�teis para "gerar empregos", bem como reduziram as taxas de juros. Ambas as medidas s�o igualmente fundamentais no receitu�rio keynesiano. Mas a depress�o se aprofundava. Para piorar as coisas, as tarifas alfandeg�rias foram ampliadas, arruinando de vez o com�rcio internacional, e os impostos foram aumentados, onerando ainda mais as empresas. Em 1931 o sistema financeiro, atolado com cr�ditos podres, desmoronou. Uma epidemia planet�ria de fal�ncias banc�rias deflagrou o p�nico generalizado e uma forte defla��o. Um a um, todos os governos abandonaram para sempre o lastro em ouro, recorreram � infla��o e �s desvaloriza��es da moeda, ergueram barreiras intranspon�veis ao com�rcio internacional. Nada funcionava. A desintegra��o das rela��es internacionais acabou em mais uma guerra mundial. A Teoria Geral Nessa atmosfera desesperadora, Keynes publicou seu organon, em 1936. � hora, pois, de avaliar em linhas gerais essa t�o famosa Teoria Geral (para uma an�lise minuciosa e exauriente, recomendo os livros de Hazlitt, Hahn, Hutt e Marget indicados abaixo). A teoria keynesiana investiga as rela��es entre grandes agregados e m�dias num�ricas em um dado pa�s, tais como renda total, produ��o total, demanda total, oferta total, consumo total, poupan�a total, emprego total, n�vel de pre�os etc, para da� extrair conclus�es anal�ticas e formular uma pol�tica positiva de a��o. A finalidade principal � desvendar os processos que levam ao "pleno emprego", isto �, � plena utiliza��o do fator de produ��o trabalho, na esfera te�rica e, com base na teoria, na esfera pr�tica. Keynes concebe duas curvas (ou "fun��es"): a curva da demanda agregada � que representa a receita total esperada da produ��o total � e a curva da oferta agregada � que retrata a receita total da produ��o total que induz os empres�rios a empregar determinados volumes de trabalho. A interse��o entre as duas curvas � o ponto da "demanda efetiva", que corresponde ao m�ximo de emprego que ser� oferecido pelos empres�rios em um determinado momento. Ocorre que, segundo Keynes, o ponto da demanda efetiva n�o corresponde necessariamente ao pleno emprego. O problema decorre do seguinte: a renda agregada (de todos os indiv�duos e empresas) � igual ao consumo agregado mais a poupan�a agregada. Tudo iria bem se a poupan�a agregada fosse integralmente investida em bens de capital, equivalendo pois ao investimento agregado. Nesse caso, a "demanda efetiva" corresponderia de fato a o "pleno emprego". Sucede que parte da poupan�a pode ser simplesmente "entesourada", ou seja, mantida ociosa em forma de dinheiro e dep�sitos banc�rios. Quando isso ocorre, a "demanda efetiva" n�o � suficiente para manter o "pleno emprego". Surge um hiato entre o volume de investimento corrente e o volume de investimento necess�rio para se atingir o "pleno emprego". Keynes lamenta amargamente que a "propens�o a consumir" de uma comunidade moderna fique longe do disp�ndio de 100% da renda total em bens de consumo, pois se toda a renda fosse gasta em consumo a "demanda efetiva" coincidiria permanentemente com o "pleno emprego", para a felicidade geral das na��es. Como isso n�o ocorre, as consequ�ncias s�o sinistras: o desemprego cr�nico de grandes massas de assalariados, a menos que o investimento supra a lacuna entre o ponto da "demanda efetiva" e o ponto do "pleno emprego". Por�m, a demanda por trabalho no setor de investimentos (bens de capital) � irremediavelmente inst�vel. Os empres�rios s� investem quando esperam obter um retorno para o capital empregado superior � taxa de juros corrente. A lucratividade esperada de um novo investimento � denominada por Keynes de "efici�ncia marginal do capital". Desafortunadamente, a efici�ncia marginal do capital padece de volatilidade insan�vel no curto prazo e tend�ncia inexoravelmente declinante no logo prazo. O primeiro v�cio mencionado d� causa aos ciclos econ�micos, que n�o passam de flutua��es violentas nas expectativas de rentabilidade por parte dos homens de neg�cio, esses vil�es intrinsecamente irracionais cujas atividades flutuam ao sabor de ondas inexplic�veis de otimismo e pessimismo que contaminam toda a economia e convidam ao desastre. O segundo v�cio deflui do fato de que os novos investimentos competem com os antigos e necessariamente levam ao decl�nio das taxas esperadas de retorno at� um ponto igual ou inferior � taxa de juros corrente. O resultado � a escassez crescente de oportunidades de investimentos rent�veis, a estagna��o e o "equil�brio com desemprego", uma vez que a "dema nda efetiva" n�o � suficiente para garantir o "pleno emprego". Keynes denomina seu sistema de "teoria geral" por entender que a teoria "cl�ssica" � apenas um caso especial no qual, por ef�meras raz�es hist�ricas, o ponto da "demanda efetiva" coincidiu por um longo per�odo com o ponto do "pleno emprego". E que raz�es hist�ricas seriam essas? No alvorecer do capitalismo as oportunidades de investimentos lucrativos eram muito grandes em raz�o da escassez de capital, das inova��es tecnol�gicas (como as ferrovias), da expans�o territorial (como a "marcha para o oeste" nos Estados Unidos) e do crescimento populacional acelerado. Essas felizes e fortuitas circunst�ncias n�o mais existiam no capitalismo maduro, o qual revelava sua inerente iniquidade em uma estagna��o estrutural permanente, com a perversidade inomin�vel de condenar vastas massas de trabalhadores � ociosidade e � in�nia. Entretanto, nem tudo estava perdido. Havia uma luz no fim do t�nel p�trido e sombrio das contradi��es internas do capitalismo. Qual? O estado, naturalmente. Para Keynes, o governo era o bus�lis, desde que conduzido por homans racionais e benevolentes, empunhando as ferramentas cient�ficas apropriadas (o keynesianismo, claro) e atuando em nome do puro bem comum. O estado poderia "salvar o capitalismo" socializando o investimento, substituindo os empres�rios inst�veis e ego�stas e fazendo a "eutan�sia do rentier". Em tempos de depress�o, bastaria ao governo "investir" o suficiente para suprir a car�ncia de investimento privado, mesmo que tal significasse um d�ficit or�ament�rio. D�ficits n�o seriam um problema, posto que os "investimentos" do governo poderiam ser cuidadosamente planejados de forma a utilizar os recursos ociosos gra�as ao "efeito multiplicador", uma f�rmula matem�tica que permitia calcular com precis�o e rigor os efeitos revigorantes dos "investimentos p�blicos". Como financiar o d�ficit? Com endividamento p�blico, o qual desviaria dinheiro privado ocioso para finalidades socialmente �teis segundo o julgamento dos pol�ticos e burocratas; e tamb�m com a cria��o pura e simples de dinheiro do nada, via lan�amentos cont�beis entre o banco central e o tesouro. Mas endividamento e infla��o n�o seriam perigosos a longo prazo? N�o, diziam os keynesianos, pois a d�vida p�blica interna significa que "n�s devemos a n�s mesmos", portanto seu volume pouco importa. A infla��o s� se manifestaria em aumento do n�vel de pre�os quando a "demanda efetiva" ultrapassasse o ponto do "pleno emprego", de modo que bastaria ao governo aumentar impostos e reduzir a liquidez da economia para mant�-la equilibrada. De qualquer maneira, uma infla��o baixa n�o seria de todo mal. Antes infla��o que desemprego. Outra medida fundamental era a tributa��o progressiva da renda dos ricos, cuja "propens�o a consumir" � baixa, em favor dos pobres, cuja "propens�o a consumir" � alta. A poupan�a era a vil� e tinha que ser desencorajada a qualquer pre�o. Outro instrumento de estabiliza��o seria a progressiva redu��o da taxa de juros at� zero. O juro, no sistema de Keynes, � um fen�meno puramente monet�rio, resultante da "prefer�ncia pela liquidez", ou seja, demanda por moeda para fins meramente especulativos e anti-sociais. O juro � um instrumento de opress�o usado por usur�rios e rentistas inescrupulosos com finalidades ego�sticas. Sendo assim, nada impede que o estado, em nome da felicidade social, suprima o juro e propicie uma abund�ncia geral de capital, sem qualquer consequ�ncia negativa. Ademais, desse modo a "efici�ncia marginal do capital", livre da limita��o do juro, seria amplamente favorecida, fomentando mais investimentos privados. Por fim, Keynes argumentava que o princ�pio das vantagens comparativas de Ricardo n�o importava mais. O com�rcio internacional e a divis�o internacional do trabalho eram meras abstra��es e, por mais que tivessem tido alguma validade na �poca dos cl�ssicos, agora deveriam ceder diante do imperativo do "pleno emprego". A prioridade dos governos deveria ser o "pleno emprego", mesmo que tal exigisse o fechamento da economia para o com�rcio externo. O que Keynes propunha era uma reinven��o radical do mercantilismo, ao qual ali�s n�o poupou elogios em seu livro. O grande sucesso dessa mix�rdia insensata se deve ao fato de que fornecia justifica��es pseudocient�ficas aos preconceitos ideol�gicos mais caros aos socialistas fabianos. A culpa da crise e do desemprego � lan�ada nas costas dos empres�rios, capitalistas e especuladores; a solu��o consistia em outorgar mais poder e dinheiro aos pol�ticos e intelectu�rios fabianos. A moderna macroeconomia nasceu sob o signo da mais descarada demagogia. A Cr�tica Desprezada Antes de passar a um exame cr�tico do sistema keynesiano, deve ficar esclarecido que essa cr�tica fundar-se-� sobretudo nas li��es da escola austr�aca de economia, cujas caracter�sticas principais merecem uma breve exposi��o. Fundada por Carl Menger, que formulou o princ�pio da utilidade marginal em 1871 revolucionando a teoria do valor e dos pre�os, a escola austr�aca amadureceu na obra de Bohm-Bawerk e sua teoria do capital e do juro, e na de Wieser, que enunciou a no��o de custo de oportunidade. Outro austr�aco, da mesma gera��o de Keynes, Ludwig von Mises (1881-1973), consolidou o sistema de seus antecessores e acrescentou a ele importantes elementos novos. No trabalho de Mises a tradi��o austr�aca alcan�a o pleno desenvolvimento. O tra�o fundamental dessa corrente � a an�lise consistente da economia � luz do individualismo e do subjetivismo metodol�gicos. A economia � a ci�ncia da a��o humana motivada em um ambiente marcado pela imperfei��o das informa��es e pela incerteza do futuro, e, ipso facto, deve deduzir seus postulados b�sicos do comportamento individual humano. Mises distingue entre teoria e hist�ria, esta o resultado de for�as complexas inextric�veis, aquela inferida de axiomas irrefut�veis destilados da a��o humana e ordenada em uma cadeia dedutiva aprior�stica de causa e efeito. Agir consiste em escolher e preferir, eleger fins e meios adequados para alcan�ar esses fins, ensina Mises, e no pr�prio conceito de a��o est�o categorias econ�micas como: escassez (o mero fato de escolher implica a impossibilidade de se atingir todos os fins ao mesmo tempo), custo (eleito um objetivo, todos os demais pass�veis de serem atingidos com os mesmos mei os s�o sacrificados � custo de oportunidade), lucro e preju�zo (avalia��o subjetiva ex post que revela o grau de sucesso ou insucesso da a��o). Mises nega que seja poss�vel deduzir leis econ�micas de estudos estat�sticos; as estat�sticas s�o sempre e apenas hist�ria econ�mica, ainda que recente. Como hist�ria � um conjunto de fen�menos complexos, a evid�ncia emp�rica n�o prova nem refuta a teoria. Mises rejeita, pois, o princ�pio popperiano da falseabilidade na ci�ncia econ�mica, e tamb�m rejeita categoricamente o m�todo matem�tico em economia, visto inexistirem constantes quantitativamente mensur�veis no comportamento humano individual e social. Rejeita igualmente a agrega��o caracter�stica da macroeconomia. Ao contr�rio de todas as outras correntes do pensamento econ�mico, os austr�acos desprezam o estudo obsessivo do equil�brio, preferindo ver a economia como um processo tendente ao equil�brio, sem jamais o alcan�ar, e concentrar-se nas for�as din�micas reais. N�o � dif�cil notar que a escola austr�aca discrepa completamente das demais correntes do pensamento econ�mico. Refletindo sobre meios e fins, Mises, como fazem todos os economistas, se perguntava sobre qual a melhor maneira de se organizar a economia de modo a que os fins declaradamente desejados por quase todo mundo, a melhoria da situa��o material das pessoas e a elimina��o da mis�ria absoluta, possam ser eficazmente atendidos. Ele descartou o socialismo sem mercado tout court, vez que a propriedade coletiva dos fatores de produ��o resulta na aus�ncia de pre�os para esses fatores, o que oculta ao �nico propriet�rio (o estado) informa��es vitais sobre a escassez relativa e os usos alternativos dos recursos. Sem mercado n�o h� pre�os, sem pre�os n�o � poss�vel o c�lculo econ�mico racional e, consequentemente, o socialismo � imposs�vel. A economia "mista" tampouco � vi�vel, posto que toda interfer�ncia estatal nos pre�os, sal�rios e juros acarreta consequ�ncias negativas e distor��es que tornam a situa��o ainda pior e levam a novas interfer�ncias, igualmente mal-sucedidas. A "terceira via", ent�o, sofre de uma instabilidade cr�nica: a interven��o estatal tende a se aprofundar e terminar no socialismo sem mercado. A alternativa restante � o capitalismo laissez-faire. Com a escola austr�aca a "m�o invis�vel" de Adam Smith ganha confirma��o e fundamentos muito mais s�lidos do que aqueles em que o fil�sofo escoc�s lastreou sua teoria. A epistemologia, a metodologia e as conclus�es de Mises n�o s�o aceitas pela esmagadora maioria dos economistas. N�o se trata, por�m, de uma quest�o cient�fica, e sim ideol�gica. � evidente que os intelectuais socialistas fabianos, economistas ou n�o, n�o podem aceitar um corpo de doutrina que refuta cabalmente o socialismo em todas as suas manifesta��es. Mas essa refuta��o � realmente assim t�o categ�rica? Cabe a cada um estudar, comparar e julgar por si mesmo. Em todo caso, para quem prefere o m�todo positivista de formular hip�teses e test�-las empiricamente para a economia, vale a pena recordar que os austr�acos (Mises e Hayek) foram os �nicos a sustentar, contra o consenso geral dos economistas, a inviabilidade b�sica do socialismo � outrance. O colapso sovi�tico confirmou esta hip�tese � saciedade. Esse foi, sem d�vida, um dos mais espetaculares e completos triunfos intelectuais na hist�ria das id�ias. Mises e Hayek tamb�m previram que o keynesianismo consistia em inje��o crescente de dinheiro na economia at� o ponto em que a droga perderia efeito e o resultado seria depress�o, infla��o galopante e desemprego. Os keynesianos ridicularizavam essa possibilidade. Mais uma hip�tese confirmada: nos anos 70 tivemos depress�o, infla��o e desemprego. Mises antecipou que as ambi��es dos macroeconomistas e econometristas (o pr�prio Keynes, justi�a seja feita, n�o tinha essa pretens�o) de constru�rem modelos matem�ticos complexos capazes de prever com precis�o o n�vel futuro de atividade econ�mica estavam fadadas ao fracasso total. Acertou novamente: hoje o m�ximo que se almeja � a elabora��o de m� ;ltiplos "cen�rios" alternativos, ou seja previs�es gerais de tend�ncia mutuamente excludentes. Revogando a Lei da Gravidade Keynes � saudado como o g�nio que refutou a Lei de Say. Vejamos o conte�do dessa lei e, por conseguinte, a validade da "refuta��o". O franc�s Jean-Baptiste Say travou no in�cio do s�culo 19 um acalorado debate com Malthus e Sismondi acerca da possibilidade de uma superprodu��o geral de mercadorias. Say negou essa hip�tese, argumentando que cada pessoa produz para consumo pr�prio ou para trocar por bens e servi�os produzidos por outras pessoas. A oferta, pois, cria sua pr�pria demanda. Tudo o que � produzido acaba sendo consumido, e n�o pode haver superprodu��o geral. Keynes retrucou afirmando que a Lei de Say pressupunha a coincid�ncia da "demanda efetiva" com o "pleno emprego", mas que, em caso de entesouramento de parte da renda total, a "demanda efetiva" seria inferior ao "pleno emprego". Nesse caso, haveria grandes massas de trabalhadores sem meios de produzir nada, e, ipso facto, a superprodu��o � ou, mais precisamente, o subconsumo - geral permanente � perfeitamente poss�vel e at� comum. Analisemos a Lei de Say em tr�s hip�teses. Na primeira abstrai-se a moeda, pressupondo-se uma economia de troca direta (escambo). Tudo o que se produz ou � consumido pelo pr�prio produtor ou trocado por mercadorias produzidas por outros indiv�duos. A segunda hip�tese presume uma economia monet�ria e um estoque definido de dinheiro, de modo que as pessoas trocam produ��o por dinheiro e, posteriormente, dinheiro por produ��o. Presume-se ademais que toda a renda � gasta em bens de consumo e bens de capital. Nesses dois casos a Lei de Say n�o � impugnada. O problema, segundo Keynes, se manifesta quando parte da renda total n�o � despendida nem em bens de consumo nem em bens de capital, mas retida em forma de dinheiro "parado" em encaixes individuais. A fal�cia na l�gica keynesiana reside no seguinte: os pre�os e sal�rios s�o considerados r�gidos. Ora, Say pressup�e flexibilidade de pre�os e sal�rios e mobilidade dos fatores de produ��o entre as ind�strias. � assim que excessos parciais de oferta, digamos, de bicicletas ou mel�es, n�o se traduzem em superprodu��o geral. Os consumidores queriam menos bicicletas e mais veloc�pedes; menos mel�es e mais melancias. Os empres�rios erraram em suas estimativas. Os pre�os de bicicletas e mel�es ent�o caem at� o ponto em que igualam oferta e demanda, enquanto que os pre�os de veloc�pedes e melancias aumentam at� igualar oferta e demanda. Say presume a fluidez de pre�os e sal�rios como elemento din�mico harmonizador. Nem mesmo o caso do "entesouramento" de dinheiro afeta a validade da Lei de Say. Se os agentes econ�micos resolvem reter parte de sua renda (aumento da demanda total por moeda), a consequ�ncia � o aumento do poder de compra da unidade monet�ria, ou, o que � o mesmo, a redu��o dos pre�os, mantidos os mesmos n�veis de consumo e investimento. Os keynesianos, todavia, afirmam que quando o aumento da demanda por moeda tem causas especulativas, isto �, quando as pessoas evitam consumir ou investir at� que os pre�os tenham ca�do o suficiente para ent�o consumir ou investir, h� o perigo da chamada "armadilha da liquidez". Os pre�os e sal�rios diminuem at� zero e a atividade econ�mica diminui junto, deflagrando uma depress�o hom�rica. Trata-se, por�m, de um sofisma. Como a boa teoria vem ensinando h� muito tempo, a especula��o tende a acelerar o ajustamento da situa��o atual � situa��o futura prevista pelos especuladores, ou, em caso de erro de previs�o, os especuladores simplesmente perdem dinheiro. A eleva��o da demanda por dinheiro para fins especulativos, se bem sucedida, apressa a redu��o de pre�os e sal�rios at� o n�vel antecipado pelos especuladores, sem que tal implique necessariamente na redu��o da atividade econ�mica. Os keynesianos retrucam com a possibilidade da baixa de pre�os se prolongar indefinidamente. Ora, essa hip�tese n�o tem relev�ncia pr�tica, e, de todo modo, nada impediria em tese que os pre�os se ajustassem pari passu no curso dessa baixa. � claro que os ajustes via pre�os n�o s�o autom�ticos, instant�neos e perfeitos. Mas, inexistindo obstru��es �s leis de mercado, n& atilde;o h� nada que funcione melhor. Os casos concretos em que a "armadilha da liquidez" teria realmente acontecido, nos Estados Unidos e alhures na depress�o dos anos 30, e atualmente na depress�o japonesa dos anos 90, demonstrariam empiricamente a validez da hip�tese, na �tica keynesiana. Mas n�o � assim. O que ocorreu nos EUA ap�s 1929 foi uma defla��o abrupta (a redu��o do estoque de dinheiro) posterior ao estouro de uma grande bolha credit�cia inflada pelo banco central. Defla��o n�o � o mesmo que "entesouramento". Ademais, o governo interferiu pesadamente nos mecanismo de ajuste via pre�os, impedindo a redu��o de sal�rios. O seu ativismo intervencionista, traduzido em desvaloriza��es da moeda, arregimenta��es de tipo fascista do empresariado e dos sindicatos, aumento de impostos, protecionismo alfandeg�rio etc desencorajaram gravemente o investimento e tornaram imposs�vel a recupera��o. Tamb�m o epis�dio japon�s come�ou com uma grande expans�o de cr�dito banc�rio nos anos 80, a qual resultou em m� aloca��o de investimentos e alimentou uma gigantesca bolha especulativa imobili�ria que acabou estourando, deixando os bancos montados em montanhas de cr�ditos podres e tecnicamente falidos. A economia nip�nica padece de graves entraves, sobretudo no mercado de trabalho. O governo n�o permitiu a liquida��o dos investimentos invi�veis e quebrados; pelo contr�rio, recorreu � farmacop�ia keynesiana completa, com novas inje��es credit�cias a juros zero ("refla��o") e gigantescas obras p�blicas in�teis (como uma enorme e moderna ponte ligando o nada a lugar nenhum), sem resultado positivo. O Jap�o est� atolado na depres s�o h� 10 anos. Em ambos os casos a Lei de Say n�o falhou de maneira alguma. Ela foi impedida de operar pelo ativismo dos governos e sindicatos. A causa da "armadilha da liquidez" � o intervencionismo estatal, jamais as "for�as cegas" do capitalismo laissez-faire. A doutrina keynesiana pode ser assim resumida: a demanda cria sua pr�pria oferta. Trocando em mi�dos, tudo o que se exige para a felicidade eterna � a distribui��o de dinheiro para a popula��o consumir � vontade. Se isso fosse solu��o, uma �nica lei seria suficiente para criar e eternizar o reino da abund�ncia: outorgar a cada cidad�o o poder de fabricar seu pr�prio dinheiro com curso obrigat�rio. A refuta��o da Lei de Say por Keynes n�o passa de uma piada de p�ssimo gosto. O Equil�brio do Desequil�brio A Gr�-Bretanha n�o desfrutou da onda de prosperidade dos anos 20. O desemprego permanente de grandes massas de assalariados perdurou ao longo do per�odo subsequente � depress�o de 1920-21 at� 1939. A crise mundial de 29 s� tornou as coisas ainda piores. Qual a raz�o desse fen�meno? Muito simples: o poderio sindical. Os poderosos sindicatos ingleses gozavam de isen��o do dever de indenizar danos materiais e pessoais perpetrados em piquetes e greves, merc� de uma lei expressa a esse respeito. Ademais, contavam com o total apoio pol�tico-ideol�gico da intelligentsia fabiana, da qual Keynes fazia parte, e do Partido Trabalhista, cuja for�a eleitoral n�o parava de aumentar. Em suma: os sindicatos ingleses, gra�as ao privil�gio da coer��o contra os empregadores via greve ou amea�a de greve, e contra a concorr�ncia de trabalhadores n�o sindicalizados via piquetes, detinham o poder de fixar os sal�rios em n�veis superiores � produtividade marginal de cada setor. Ora, a teoria mais elementar ensina que a fixa��o de um pre�o acima do ponto em que oferta e demanda se igualam acarreta um excesso encalhado de oferta. Como os sal�rios s�o pre�os, o ativismo sindical resultava em desemprego para milh�es de pessoas, impedidas de aceitar empregos por valores menores do que aqueles determinados pelos sindicatos. Para evitar uma explos�o social, o governo pagava generosas pens�es aos desempregados, cujo custeio por�m exigia um crescente arrocho tribut�rio que sobrecarregava as empresas, reduzindo ainda mais sua competitividade e capacidade de empregar. Como Mises dizia, um pa�s pode ter tanto desemprego quanto se dispuser a pagar. Keynes, como bom fabiano, malgrado percebesse muito bem os efeitos nocivos do sindicalismo brit�nico, preferia n�o fazer grande alarde disso. Os sindicatos eram importantes demais na hagiologia fabiana para serem responsabilizados pelos males que causavam. Foi esse imperativo ideol�gico de ocultar a realidade que inspirou o economista brit�nico a conceber sua teoria macroecon�mica do emprego, cujos contornos j� estudamos acima. A "demanda efetiva", no entanto, � pura mistifica��o. Os entes de raz�o criados por Keynes, os agregados, n�o t�m a m�nima import�ncia concreta para a determina��o do n�vel total de emprego. O trabalho � um fator de produ��o e o objetivo de toda produ��o � o consumo. At� que a humanidade chegue ao Jardim do �den da plenitude, o consumo das coisas existentes e outras ainda nem imaginadas ser� permanente. Sendo assim, o trabalho por defini��o � escasso. A cada momento existe mais demanda do que oferta, ou seja, as pessoas est�o sempre querendo consumir mais bens e servi�os do que os ofertados. Se o trabalho � escasso, ele � um bem econ�mico, i.e., tudo aquilo que, a pre�o zero, a demanda supera a oferta. Como o trabalho � um bem econ�mico, ele tem sempre um pre�o, e sempre h� demanda correspondente � oferta, a esse pre�o. Em uma economia de mercado desimpedida, portanto, n�o pode haver desemprego involunt�rio permanente. As causas do desemprego s�o invariavelmente ex�genas ao mercado. Como vimos, Keynes negava esse racioc�nio, asseverando que o verdadeiro determinante do n�vel de emprego total, a "demanda efetiva", poderia se situar abaixo do ponto do "pleno emprego", perpetuando assim uma situa��o de "equil�brio com desemprego". Rebatendo �s cr�ticas que apontavam a presun��o de rigidez para baixo dos padr�es salariais em seu sistema, Keynes recorria a dois argumentos: 1- o poder sindical era uma realidade, pelo que a pol�tica pr�tica n�o podia deixar de levar esse fator em conta; e 2- que a diminui��o dos sal�rios reduziria a renda global e a demanda agregada, que por sua vez reduziria o emprego total. O primeiro argumento equivale a admitir a validade da teoria "cl�ssica" do emprego. Se os pre�os n�o podem mais funcionar como fator equilibrador entre oferta e demanda por trabalho, porque � politicamente imposs�vel despojar os sindicatos do privil�gio do uso da viol�ncia em causa pr�pria, ent�o a culpa n�o � evidentemente dos pre�os nem do capitalismo laissez-faire. O segundo argumento repousa em um sofisma: Keynes confunde deliberadamente n�veis salariais com despesas totais com sal�rios, coisas completamente diferentes. Ora, o que importa para os empregadores individuais n�o � a "curva da oferta agregada" ou a "curva da demanda agregada", e sim a diferen�a entre custos correntes, inclusive com m�o-de-obra, e o pre�o futuro do seu produto e a receita total futura da sua produ��o, de maneira que haja expectativa de obten��o de retorno ao menos equivalente � taxa de juros corrente. O empregador individual n�o pode pagar mais aos seus empregados do que o valor que cada um deles agrega ao total da produ��o desse empre gador, nem pode pagar menos do que seus concorrentes pagam. Na aus�ncia de obst�culos artificiais, os pre�os e custos se ajustam no n�vel microecon�mico at� que o "pleno emprego" seja alcan�ado, ou seja, at� o ponto em que todos aqueles que desejam se empregar obt�m empregos. Por conseguinte, a redu��o dos n�veis salariais (que jamais � uniforme e simult�nea, e nem precisa ser) n�o significa redu��o dos gastos totais com o pagamento de m�o-de-obra. Pelo contr�rio, atingido o ponto de igualdade entre oferta e demanda por trabalho em cada �rea profissional, o total das despesas com sal�rios tende inclusive a superar o total anterior. Um exemplo simplificado ilustrar� o racioc�nio: suponhamos que o governo decrete um sal�rio m�nimo de um bilh�o de d�lares. Digamos que, a esse pre�o, somente uma pessoa consiga trabalho. O n�vel salarial � um bilh�o de d�lares, a despesa total com sal�rios � de um bilh�o de d�lares e somente uma pessoa est� empregada. Revogado esse decreto, e prevalecendo a livre negocia��o nos contratos individuais de trabalho em bases de mercado, o n�vel salarial naturalmente despenca. Por outro lado, todos aqueles que desejam trabalhar agora conseguem emprego, e a despesa total com sal�rios chega a, digamos, dois bilh�es de d�lares. O "equil�brio com desemprego" � uma farsa, at� porque o conceito de equil�brio � uma mera constru��o imagin�ria, sem lugar no mundo real. Keynes reconhece tacitamente a solidez dessas obje��es quando afirma que os sindicatos resistem apenas � redu��es dos sal�rios nominais, mas n�o se op�em � redu��o dos sal�rios reais. O que ele recomenda, portanto, � o uso da infla��o para reduzir os sal�rios reais, mediante a deprecia��o do poder aquisitivo do dinheiro, mantidos os sal�rios nominais. Trata-se de um estratagema para contornar os obst�culos sindicais aos ajustes dos sal�rios reais aos respectivos n�veis de produtividade marginal, o que permite a absor��o das massas de desempregados. Ora, isso � o mesmo que um sujeito, desejando deslocar-se do Rio at� Niter�i, ao inv�s de atravessar a ponte ou pegar uma barca, decidir dar a volta ao mundo no outro sentido para chegar � simp�tica "cidade sorriso", declarando-se um g�nio por ter feito essa brilhante descoberta, que passa a denominar "Teoria Geral do Deslocamento entre Rio e Niter�i", sendo a prosaica e �bvia travessia da ponte um simples "caso especial". A analogia � menos absurda do que parece. Recorrer � infla��o para obter o mesmo resultado que a flexibilidade de pre�os e sal�rios significa transmitir para o sistema de pre�os todas as distor��es e desequil�brios que a deprecia��o da moeda causa. Por outro lado, seria suma ingenuidade ou burrice presumir que os sindicatos se deixariam enganar por um artif�cio t�o singelo. Na realidade, claro, eles rapidamente perceberam o que estava ocorrendo e passaram a exigir "reposi��es salariais" segundo �ndices de custo de vida. O unguento keynesiano n�o s� n�o curou o paciente como agravou seu estado. O palco estava preparado para a " espiral inflacion�ria" do p�s-guerra. O Hocus-Pocus da "Efici�ncia Marginal do Capital" e da "Prefer�ncia pela Liquidez" Vimos que Keynes acreditava que o capitalismo atingira seus limites nos anos 30, posto que a "efici�ncia marginal do capital", ou seja, a expectativa de lucratividade dos novos investimentos particulares, doravante seria igual ou inferior � taxa de juros no longo prazo. Os fatos posteriores desmentiram espetacularmente essa conclus�o, que foi discretamente "esquecida" pelos keynesianos. Desde 1936 a economia mundial cresceu em escala colossal e novas ind�strias surgiram e floresceram nesse per�odo, como a da inform�tica. Qual o motivo de t�o crassa falha teor�tica? Keynes, como muitos economistas antes dele, Marx inclusive, deixou-se iludir pela tend�ncia ao equil�brio existente na economia de mercado. Se as prefer�ncias dos consumidores, o crescimento demogr�fico, as inova��es tecnol�gicas e outras circunst�ncias das atividades econ�micas subitamente se congelassem, as for�as de mercado levariam a um estado de coisas denominado por Mises de "economia uniformemente circular", uma situa��o de equil�brio din�mico na qual n�o haveria lucros mas tamb�m n�o haveria perdas, e o retorno dos empres�rios e capitalistas seria equivalente a uma taxa de juros uniforme em todos os ramos produtivos. Como, por�m, esses dados nunca est�o "dados", pelo contr�rio, est�o em fluxo permanente, e o futuro permanece inexoravelmente incerto, esse equil�brio geral nunca � atingido. A competi��o obriga as empresas estabelecidas a pesquisar incessantemente formas de redu��o de custos e pre�os, o que libera fatores de produ��o para serem empregados em novas ind�strias. As perspectivas de lucro agregado n�o tendem a declinar, pelo menos enquanto existir nova poupan�a agregada sendo formada em volume al& eacute;m do suficiente para se manter a estrutura de capital atual. De maneira que a tend�ncia declinante da "efici�ncia marginal do capital" de longo prazo, assim como a tend�ncia de queda da "taxa de lucros" dos marxistas, s�o como aquela plaquinha nos botecos: fiado s� amanh�. Keynes culpava as varia��es abruptas de curto prazo da "efici�ncia marginal do capital" pelos ciclos econ�micos de prosperidade e depress�o. Para ele, a irracionalidade e volubilidade dos investidores privados ("animal spirits") eram a causa eficiente das crises. Essa teoria � t�o infundada quanto a anterior. Os empres�rios s�o perfeitamente racionais: investem nas linhas de produ��o em que esperam o maior retorno, o qual depender� do estado futuro do mercado, sobretudo da prefer�ncia dos conumidores. Alguns erram suas estimativas e sofrem preju�zos; outros acertam e conseguem obter lucro. Isso ocorre o tempo todo. O tra�o singular das crises � que repentinamente a situa��o revela que todos, ou quase todos, os empres�rios erraram em suas previs�es. N�o se trata de flutua��es na psicologia coletiva do mercado, como defendia Keynes, mas de dados bem reais, concretos: a lucratividade esperada em todos os setores n�o se confirmou. Ora, como � poss�vel que homens de neg�cios treinados em um ambiente duramente competitivo na arte de antecipar a demanda futura errem subitamente, todos ao mesmo tempo? Esse � o problema crucial que deve ser enfrentado por uma teoria coerente dos ciclos. � pertinente esbo�ar agora a teoria dos ciclos da escola austr�aca, que, al�m de me parecer a mais completa, conflita frontalmente com a concep��o keynesiana. No modelo de uma economia de mercado pura, como aqueles delineados por Murray Rothbard (Man, Economy and State) e J. Schumpeter (Teoria do Desenvolvimento Econ�mico), n�o se encontra a solu��o do enigma. Schumpeter (um grande economista austr�aco, por�m ligado � escola walrasiana do equil�brio geral) procurou a resposta na fun��o empresarial como o fator de desequil�brio que detona a crise. � a c�lebre teoria da "destrui��o criativa", que ocorre quando alguns empres�rios introduzem novos m�todos de produ��o, novas tecnologias e novos produtos no mercado. Essas inova��es perturbam a constela��o econ�mica e deflagram algo como "dores do parto" inevit�veis ao progresso, em que certas ind�strias s�o eliminados e novas s�o criadas e desenvolvidas. Findo o processo, um novo equil�brio � estabelecido, at� que nova perturba��o aconte�a. A cr�tica que efetivamente refuta essa tese funda-se no fato de que as inova��es empresariais n�o se concentram em um per�odo determinado, mas est�o operando o tempo todo. A conclus�o dos austr�acos � que as crises n�o t�m lugar na economia capitalista pura. A causa dos ciclos, pois, deve necessariamente ser ex�gena. Mises notou que, em um mundo onde tudo � heterog�neo, o c�lculo econ�mico racional pressup�e pre�os em dinheiro, que � a unidade de conta homog�nea que articula toda a economia. Os agentes econ�micos tra�am seus planos e agem em fun��o deles com base em par�metros monet�rios. O sistema de pre�os �, pois, a b�ssola geral da economia. O que ocorre quando essa b�ssola � danificada? Em especial, quais as consequ�ncias de manipula��es das taxas de juros no mercado financeiro? Antes de prosseguir � preciso proceder a uma investiga��o sum�ria sobre a natureza do juro. A teoria do juro � muito controvertida. Existem basicamente duas explica��es sobre a sua ess�ncia: produtividade do capital e prefer�ncia temporal. A doutrina da produtividade ensina que o empr�stimo de dinheiro equivale a ceder a outrem os meios de empregar bens de capital para determinados fins. Esses bens de capital produzir�o frutos no per�odo do empr�stimo, pelo que o juro � a recompensa que se paga ao emprestador pela cess�o da produtividade do capital ao tomador. J� a tese da prefer�ncia temporal parte do pressuposto de que as pessoas valoram mais os mesmos bens no presente do que no futuro, sendo o juro o desconto do futuro em rela��o ao presente. H� ainda autores ecl�ticos que adotam tanto a produtividade quanto a prefer�ncia temporal. Todas essas teorias concluem que o juro � um fen�meno real que perpassa toda a economia, n�o sendo limitado ao mercado de empr�stimo de dinheiro. Keynes, por�m, com sua tese da "prefer�ncia pela liquidez", afirma que o juro � a recompensa que se paga ao emprestador para n�o entesourar dinheiro. E s�. Para os keynesianos o juro � um fen�meno limitado ao mercado de dinheiro. Trata-se de um tremendo retrocesso a grosseiras concep��es pr�-cient�ficas. O juro � retratado como um abuso da propriedade do dinheiro por parte de usur�rios inescrupulosos. Nada mais justo, pois, do que simplesmente abolir o juro e acabar com esse privil�gio in�quo do "rentier". Essa tese est�, para variar, inteiramente errada. Ora, se o juro � o pre�o de se separar da liquidez, o mesmo se pode dizer de todos os pre�os existentes. Por exemplo, o pre�o de uma m�dia com p�o com manteiga � a recompensa que o dono do botequim deve me pagar para que eu desista d e entesourar a nota de um real que carrego na carteira e me anime a separar-me da c�lida liquidez propiciada por esse dinheiro. Assim, a "taxa da m�dia com p�o com manteiga" � de um real. Rid�culo. Para Mises, o juro � a taxa social de prefer�ncia temporal e o principal componente da taxa de juros do mercado financeiro, � qual se somam mais dois componentes secund�rios: um relativo � expectativa de varia��o do poder aquisitivo da unidade monet�ria e outro referente ao risco de inadimplemento dos devedores. Seguindo a concep��o de Bohm-Bawerk sobre o capital, o juro � visto como um fen�meno real cujo papel � o de estruturar intertemporalmente os diversos est�gios da produ��o capitalista. Esta segue um caminho indireto, dividido em v�rias fases, da extra��o das mat�rias-primas at� a venda do bem de consumo no varejo. A taxa de juros banc�ria sinaliza para os empreendedores o quantum de poupan�a dispon�vel para investimentos e a propor��o social entre consumo e poupan�a em um dado momento. Se o banco central reduz artificialmente a taxa de juros abaixo do n�vel de mercado, um sinal fundamental para o processo econ�mico � falseado. Se a taxa de mercado � de, digamos, 10% anuais, somente empreendimentos que prometam um retorno acima dessa cifra ser�o levados a cabo. Se, contudo, o governo fixa uma taxa de 6% anuais, criando ex nihilo dep�sitos banc�rios sujeitos a cheque, ou seja, inflando o estoque de moeda, os empres�rios lan�am-se em projetos que s� aparentemente s�o rent�veis, pois a poupan�a existente � menor do que parece.. Surge um falso incentivo ao investimento sobretudo nos est�gios de bens de capital mais distantes do consumo final, os quais atraem fatores de produ��o antes empregados nos est�gios mais pr�ximos do consumo final. Ocorre que a taxa de juros real, isto �, a propor��o geral de consumo e poupan�a, n�o mudou. Os propriet�rios dos fatores de produ��o atra�dos para as novas ind�strias continuam a gastar e poupar como se a taxa de juros fosse de 10% anuais. O incremento do consumo decorrente da maior quantidade de dinheiro aumenta os pre�os do varejo e os est�gios da cadeia produtiva mais pr�ximos do consumo atraem de volta os fatores de produ��o anteriormente desviados para o setor de bens de capital. Os investimentos ilusoriamente rent�veis � taxa de juros mais baixa revelam-se errados. � o momento da crise. O governo v�-se diante do dilema de baixar ainda mais a taxa de juros para socorrer os devedores em estado periclitante, e assim correr o perigo de uma infla��o de pre�os, ou elevar os juros at� o n�vel de mercado ou acima, o que engendra a liquida��o dos empreendimentos invi�veis e a retomada do equil�brio segundo a prefer�ncia temporal real. Esse �ltimo caso � a recess�o. Essa teoria monet�ria dos ciclos, brilhantemente formalizada por Hayek no livro Prices and Production, � apoiada pela evid�ncia emp�rica. Todas as crises e recess�es (inclusive a atual) come�am nas ind�strias de bens de capital e s� bem mais tarde chegam ao consumo no varejo. Se a doutrina keynesiana da demanda agregada insuficiente fosse a correta, seria o contr�rio: o setor de bens de consumo seria afetado em primeiro lugar. A ambi��o keynesiana de abolir o juro �, por conseguinte absurda e desastrosa. A pol�tica keynesiana de manter juros artificialmente baixos por um longo tempo tampouco � menos nefasta. A op��o entre infla��o e desemprego � ilus�ria, salvo no curto prazo. A infla��o n�o pode durar para sempre, sob pena de causar o colapso da pr�pria moeda. A grande crise dos anos 70, caracterizada por infla��o alta e desemprego alto, representou o fim do projeto keynesiano de fomentar a prosperidade eterna via infla��o e juros baixos. Para debelar a infla��o, os pa�ses desenvolvidos viram-se obrigados a elevar as taxas de juros reais para a estratosfera no in�cio dos anos 80, exatamente como previra a teoria austr�aca dos ciclos. O Milagre da Multiplica��o O multiplicador � um conceito chave no sistema keynesiano e anunciado como uma de suas grandes descobertas. Vejamos. Keynes deduz da natureza humana, sem maiores fanfarras, uma "lei psicol�gica fundamental", batizada de propens�o a consumir. Trata-se de uma rela��o supostamente est�vel entre renda total e consumo total, representada graficamente por uma curva (ou matematicamente por uma "fun��o"). A id�ia b�sica � que o consumo agregado � sempre proporcionalmente est�vel, mesmo quando a renda agregada aumenta. Suponhamos que o consumo agregado seja de 80% da renda agregada em qualquer n�vel, sendo os 20% restantes alocados como poupan�a. Dessa suposi��o infere-se que todo investimento novo (p�blico ou privado) gera um m�ltiplo cuja exata magnitude pode ser calculada matematicamente. O investimento gera renda para os propriet�rios dos fatores de produ��o, os quais poupam 20% e gastam 80%, que se torna renda para quem recebeu, e assim por diante. Assim, um investimento de um milh�o (o multiplicando) gera um aumento total de renda de cinco milh�es, supondo-se que o multiplicador seja 5. Estamos diante de um caso de flagrante abuso da matem�tica, pois apregoa-se uma exatid�o rigorosa absolutamente falsa. Para come�ar, Keynes matematiza uma "lei psicol�gica", cuja exist�ncia e validade sequer � investigada, com a maior naturalidade, como se fosse coisa perfeitamente normal. Como Freud e Jung n�o pensaram nisso antes? � �bvio o sofisma. N�o h� lei psicol�gica nenhuma que permita deduzir a estabilidade permanente da propor��o consumo/poupan�a da renda agregada. N�o existem constantes quantitativas na a��o humana. � puro xamanismo travestido de ci�ncia. Ademais, mesmo admitindo-se para argumentar que o racioc�nio esteja em linhas gerais correto, a precis�o matem�tica � esp�ria. Como Keynes e os keynesianos admitem, � imposs�vel saber de antem�o qual ser� o multiplicador do pr�ximo investimento. Keynes "acha", por exemplo, que o multiplicador nos Estados Unidos da �poca era de 2,5. Tampouco � razoavelmente poss�vel verificar posteriormente qual foi o multiplicador do investimento passado e qual o aumento da renda por ele gerado, at� porque afirma-se que podem ocorrer "filtra��es" imprevis�veis no processo. O tempo de dura��o desse milagre da multiplica��o tamb�m � imprevis�vel, vez que depende de circunst�ncias vari�veis. Logo, o que temos � o seguinte: SE a propens�o a consumir for a, SE a propens�o marginal a consumir for b e SE o multiplicador for k, um novo investimento de x acarretar� um aumento de renda de kx, se n�o houver filtra��es, e em tempo indefinido. Um enunciado honesto dessa teoria seria algo como: todo novo investimento gera um aumento de renda cuja magnitude e tempo de dura&cc edil;�o, al�m de n�o poderem ser estimados ex ante nem verificados ex post, dependem de circunst�ncias inquantific�veis e imprevis�veis, e ipso facto nunca s�o constantes. A exposi��o clara do racioc�nio, contudo, revelaria seu car�ter tru�stico e impreciso, o que seria inaceit�vel face ao prop�sito idel�gico mais ou menos declarado dessa mistifica��o: justificar os gastos p�blicos. A grande revolu��o do keynesianismo teve natureza sem�ntico-idel�gica: qualquer gasto p�blico, por mais estapaf�rdio que fosse, passou a ser denominado de "investimento". Keynes afirma na Teoria Geral que construir pir�mides ou cavar buracos para depois tap�-los com dinheiro p�blico s�o hip�teses de "investimento". � claro que tudo isso � bobagem da grossa. Na aus�ncia de interfer�ncia no sistema de pre�os, a Lei de Say se encarrega de harmonizar o processo econ�mico. Quantos aos gastos p�blicos, se s�o financiados com impostos ou endividamento, simplesmente desviam recursos do investimento e consumo dos particulares para finalidades preferidas pelos pol�ticos e burocratas. Se um governo ordena a constru��o de pir�mides invertidas nas pra�as de todas as cidades, o "multiplicador" correspondente � renda dos oper�rios empregados nessas obras � mais do que anulado pelo "divisor" decorrente de empreeendimentos privados que tiveram de ser renunciados e da renda dos assalariados desses empreendimentos que consequentemente n�o foi gerada. Na hip�tese de financiamento inflacion�rio dos gastos p�blicos, ou seja, atrav�s da cria��o pura e simples de dinheiro, somente decorrer�o efeitos positivos, e mesmo assim s� no curto prazo, se a infla��o de pre�os depreciar os sal�rios nominais at� o ponto em que seu valor real iguale oferta e procura por trabalho em todos os mercados. Vale lembrar que "investimentos" p�blicos ocorreram em grande escala durante toda a depress�o dos anos 30, bem como na atual crise japonesa, e o "multiplicador" simplesmente n�o funcionou. Estamos agora em posi��o de esbo�ar um modelo de economia ideal segundo o figurino keynesiano. Imaginemos um sistema em que o governo imprime um milh�o de unidades monet�rias e as entrega a quinhentos mil indiv�duos, a metade da popula��o, com ordens expressas de gastar esse dinheiro integralmente na contrata��o da outra metade da popula��o para o fim espec�fico de cavar buracos com as m�os nuas. Estes, por sua vez, ter�o que gastar toda a sua renda contratando aqueles para tapar os buracos cavados. A propens�o a consumir �, pois, de 100%, perfeitamente est�vel e constante. A poupan�a felizmente n�o existe, de maneira que n�o ocorre o entesouramento. Tamb�m n�o h� investimento privado, gra�as aos c�us, de modo que essa vari�vel inconveniente e inst�vel n�o atrapalha o funcionamento da economia. O multiplicador pode ser calculado com precis�o e seus efeitos idem: como a propens�o marginal a consumir � 1, o multiplicador de renda � infinito. Keynes descobriu o moto cont�nuo econ�mico! N�o h� com�rcio exterior nem problemas com a taxa de c�mbio. O juro est� suprimido; o rentier n�o oprime mais o povo. Voil�! O ponto da demanda efetiva coincide permanente e eternamente com o ponto do pleno emprego. � verdade que a ningu�m � permitido fazer outra coisa sen�o cavar e tapar buracos. Mas que importam esses detalhes? O desemprego est� eliminado para sempre. O pleno emprego � tudo o que a humanidade necessita! O leitor talvez se queixe de abuso do recurso ret�rico da reductio ad absurdum. Creio, todavia, que na l�gica do sistema keynesiano todos os racioc�nios conduzem inevitavelmente ao absurdo. O Postulado do Rei-Fil�sofo Mesmo que o quadro anal�tico pintado por Keynes estivesse correto � e n�o est� -, ainda assim o programa de a��o dele derivado dependeria de mais um postulado nada menos do que mirabolante: a onisci�ncia e benevol�ncia dos agentes p�blicos encarregados de sua execu��o. Para o Deus Ex Machina keynesiano funcionar � imprescind�vel que ele seja manejado por um Rei-Fil�sofo plat�nico, assessorado por severos e incorrupt�veis guardi�es. Somente uma deidade seria capaz de saber com certeza o momento exato de puxar as alavancas e acionar os bot�es da m�quina macroecon�mica keynesiana e assim perpetuar o equil�brio com pleno emprego. E somente seres divinos seriam capazes de resistir �s tenta��es de usar em causa pr�pria o enorme poder que Keynes concentra no governo. Essa era a imagem que Keynes e seus sucessores faziam de si mesmos, ou pelo menos era a imagem com que queriam persuadir o p�blico de sua capacidade e compet�ncia. E n�o h� d�vida de que � desse modo que os pol�ticos e burocratas gostam de ser retratados. Evidentemente esse postulado deve ser rejeitado instintivamente por absurdo. Malgrado seja poss�vel que um ou outro agente estatal atue de acordo com o que acredita ser o interesse social, h� que reconhecer que essa n�o � a regra. Os economistas da escola da "Public Choice" aprofundaram o estudo do comportamento do homo politicus e suas an�lises retratam com bastante fidelidade a realidade circundante. Presume-se que tanto os pol�ticos, como os burocratas e eleitores ajam segundo seus pr�prios interesses. O objetivo dos pol�ticos � alcan�ar e manter o poder; os burocratas desejam melhores sal�rios e mais prebendas; e os eleitores votam nos candidatos que lhes prometam mais benef�cios concretos. Os pol�ticos celebram acordos com grupos de interesse setoriais que lhes garantam o m�ximo poss�vel de votos e recursos para suas campanhas eleitorais; os burocratas pressionam os pol�ticos atrav�s de seus poderosos sindicatos visando obter cada vez mais vantagens; e os eleitores votam em quem lhes oferecer algo palp�vel em troca, n�o raro �s expensas de outras pessoas e grupos. Os recursos que sustentam os pol�ticos, burocratas e eleitores favorecidos por pol�ticas redistributivistas e restricionistas (welfare-state, subs�dios, protecionismo, licen�as profissionais etc) s�o oriundos da riqueza tomada aos contribuintes. A carga tribut�ria, assim, tende a ser t�o alta quanto poss�vel e mesmo assim nunca � suficiente para assegurar um or�amento p�blico equilibrado. Os d�ficits fiscais permanentes resultantes acabam sendo financiados via infla��o e endividamento p�blico, que geram juros altos e muitos outros males. A politiza��o crescente da vida engendra uma ordem social infernal e injusta, tal como a que conhecemos t�o bem. A macroeconomia keynesiana, j� um erro em si mesma, agrava ainda mais a situa��o por outorgar aos agentes pol�ticos poderes exorbitantes para manipular a economia, poderes que inevitavelmente terminam sendo exercidos em benef&iac ute;cio pr�prio por aqueles que o usam. Ao tornar respeit�veis - e mesmo desej�veis - coisas como infla��o, d�ficits or�ament�rios, gastos p�blicos desmedidos e tributa��o elevada, o keynesianismo contribuiu decisivamente para fomentar o descalabro estatista em escala s� ultrapassada nos pa�ses comunistas. O Dono do Mundo Na �poca da deflagra��o da Segunda Guerra Mundial, Keynes estava no pin�culo da fama e influ�ncia mundiais, reconhecido como maior economista do seu tempo. Principal assessor de pol�tica econ�mica do governo brit�nico, foi feito Lorde (Bar�o Keynes de Tilton) por seu antigo desafeto Winston Churchill. Com a vit�ria militar assegurada, reuniram-se em 1944, na localidade americana de Bretton Woods, delega��es de in�meros governos para deliberar sobre a reconstru��o da economia mundial do p�s-guerra. � claro que os Estados Unidos e a Gr�-Bretanha dominavam a confer�ncia, restando aos demais o papel de meros figurantes. Chefiando a miss�o brit�nica l� estava ele, Keynes, finalmente dispondo de poder suficiente para impor sua engenharia social ao planeta. O l�der dos americanos era Harry Dexter White, um ativo new dealer de Roosevelt e, hoje sabe-se com certeza, comunista e agente da Uni�o Sovi�tica. Que ironia! O futuro do capitalismo estava agora nas m�os de um socialista fabiano e de um comunista! E que cinismo dos socialistas de todos os matizes as entediantes catilin�rias lan�adas contra institui��es criadas por eles mesmos, como o FMI, o Banco Mundial e o Gatt (atual OMC)! Keynes queria liberdade de a��o para o seu governo (e, por extens�o, para todos os governos) garantir o "pleno emprego" estabilizando a "demanda efetiva". Em outras palavras, ele pretendia aumentar indefinidamente a oferta de moeda e cr�dito na economia inglesa, ou em bom portugu�s, inflacionar. Para que as inevit�veis distor��es e problemas oriundos dos fluxos financeiros internacionais, do c�mbio, do balan�o de pagamentos e do com�rcio exterior n�o atrapalhassem a pol�tica inflacion�ria inglesa, Keynes propunha que se controlasse severamente os movimentos de capital e as taxas de c�mbio. O rabo teria que abanar o cachorro. Ele e Harry White conceberam o FMI para tentar remendar os desequil�brios nos balan�os de pagamentos que suas pr�prias pol�ticas tornavam inevit�veis. Estava criado o cen�rio para a pandemia inflacion�ria mundial das pr�ximas d�cadas. Foi criado ainda o Banco Mundial, organismo que se especializou em transferir o dinheiro tomado compulsoriamente dos contribuintes pobres dos pa�ses ricos para as ricas e predat�rias oligarquias dos pa�ses pobres. Na mesma �poca, Roosevelt doava metade da Europa para a URSS em troca da participa��o dela na ONU. Assim, essa institui��o t�o ciosa dos "direitos humanos" nasceu de uma barganha na qual algumas dezenas de milh�es de seres humanos foram entregues cinicamente aos ternos cuidados do "Tio Joe", o camarada Stalin. Keynes morreu no auge do sucesso em 1946. Alguns de seus amigos disseram mais tarde que ele estava algo insatisfeito com suas pr�prias teorias e seus efeitos, irritado com seus pupilos do "circo" cambridgeano e que tencionava repudiar parcialmente o "keynesianismo". De fato, em seu �ltimo artigo no Economic Journal, publicado postumamente, h� discretos elogios � doutrina "cl�ssica" e uma amarga tirada contra as teorias contempor�neas, "much modernist stuff turned sour, and gone wrong and silly". A que mais ele poderia estar se referindo sen�o �s suas pr�prias id�ias?! Seja como for, o mal j� estava feito. O Mundo M�gico da Macroeconomia Teorizar � abstrair do objeto do estudo os elementos acidentais e manejar apenas o que � essencial para a compreens�o do que se estuda. A macroeconomia, contudo, abstrai demais e por isso � imprest�vel como referencial te�rico. O pr�prio n�cleo do fen�meno econ�mico, a a��o humana individual motivada em um mundo de escassez e incerteza, � desprezado. Esse � o pecado original da macroeconomia inaugurada pelo pern�stico fabiano ingl�s e que a macula desde ent�o. O �nico v�nculo entre os agregados keynesianos e o ser humano concreto s�o as "leis psicol�gicas fundamentais" que Keynes inventa para adornar com uma apar�ncia de fundamenta��o emp�rica suas "fun��es" fraudulentas. A macroeconomia n�o faz sentido para os agentes econ�micos: indiv�duos, empresas, fam�lias. Esse holismo s� interessa ao estado, n�o porque lhe confira o poder de controlar benevolamente as atividades econ�micas, mas porque dissemina a ilus�o de que isso � poss�vel e desej�vel. A fus�o dessa macrodoutrina com as outras tend�ncias dominantes no pensamento econ�mico da �poca, o m�todo matem�tico e a quantifica��o estat�stica, gestaram um ferramental anal�tico t�o imponente quanto equivocado. Um colega de Keynes, J. Hicks, concebeu em 1937 o modelo IS-ML ("I" de investimento, "S" de poupan�a, "L" de prefer�ncia pela liquidez e "M" de oferta de moeda) no qual a "teoria geral" keynesiana, que se gabava de ser um avan�o face ao "caso especial cl�ssico", ela era mesma um caso especial. Essa "macro-macroeconomia" Keynes-Hicks � o que se ensina ainda em nossos dias nas universidades de t odo o planeta como o state of the art da ci�ncia econ�mica. Modelos macroecon�micos com 300 equa��es e 500 vari�veis foram desenvolvidos com o fim de prever a atividade econ�mica futura e atingiram uma perfei��o estat�stica impressionante: 100% de previs�es erradas. Os historiadores futuros registrar�o que raramente houve nos anais da ci�ncia tamanho desperd�cio de neur�nios e recursos. Na mesma �poca, a teoria do valor e dos pre�os ganhou a alcunha de microeconomia. O paradigma te�rico microecon�mico, como era de se esperar, veio a ser, como ainda �, aquele baseado na obra de L. Walras, cujos tra�os marcantes s�o a metodologia pesadamente matem�tica, o formalismo, os postulados irrealistas (concorr�ncia perfeita, informa��o perfeita, mobilidade perfeita) e a obsess�o pelo equil�brio. A farisaica constata��o de que a realidade imperfeita n�o se enquadra nas premissas e conclus�es perfeitas dessa esp�cie de an�lise microecon�mica forneceu, e ainda fornece, mais falsos pretextos para o intervencionismo estatal curar as "falhas do mercado". A "s�ntese neocl�ssica", como passou a ser chamado esse casamento de conveni�ncia da macroeconomia keynesiana com a microeconomia walrasiana, reduz o pensamento econ�mico a um ramo da matem�tica aplicada, expulsando do seu �mbito a a��o humana concreta. Os economistas contempor�neos empenharam-se na busca in�til da equa��o suprema e fundamental, a e=mc2 da economia. Contudo, uma ci�ncia n�o pode esvaziar-se de seu conte�do impunemente. � medida em que os refinamentos anal�ticos descolavam a teoria econ�mica cada vez mais do mundo real, e as controv�rsias doutrin�rias se faziam cada vez mais bizantinas, a realidade se fez sentir e veio a desnudar a irrelev�ncia das mais engenhosas teorias e dos mais elegantes modelos matam�ticos. A mitologia fabiana assevera que os 25 anos que se seguiram � Segunda Guerra constitu�ram uma Idade do Ouro de crescimento constante e prosperidade universal atribu�dos, claro, ao keynesianismo. Trata-se de uma patranha ideol�gica, de um caso t�pico da fal�cia post hoc ergo propter hoc, como veremos. Per�odos de grande desenvolvimento no s�culo 19 e no in�cio do s�culo 20 se desenrolaram sem a interveni�ncia da nova macroeconomia. O fato � que o futuro do capitalismo dependia do desempenho da economia americana, a �nica isenta das depreda��es causadas pela guerra. As previs�es de Keynes e seus disc�pulos em ambos os lados do Atl�ntico, por�m, eram sombrias. A guerra trouxera o pleno emprego, pois quem n�o estava fabricando armamentos em casa estava utilizando-os nas batalhas nos quatro cantos do mundo. O investimento fora socializado, com efeito. O governo americano controlava direta ou indiretamente a produ��o nacional. O fim do conflito traria a desmobiliza��o de milh�es de soldados, bem como a dr�stica redu��o da produ��o b�lica. A consequente cessa��o do dom�nio estatal do investimento total significaria devolver aos particulares a dura tarefa de igualar a "demanda efetiva" ao ponto do "pleno emprego". Como sabemos, os keynesianos acreditavam piamente que isso n�o seria poss�vel, face aos v�cios da "efici�ncia marginal do capital" privado. Eles eram un�nimes em seu diagn�stico: a paz causaria uma depress�o calamitosa na economia americana. Ah, se a guerra pudesse durar para sempre! Diagn�stico estrondosamente errado. Os homens que deixaram as for�as armadas foram rapidamente absorvidos no mercado de trabalho e a convers�o da produ��o para fins pac�ficos ocorreu com uma rapidez e harmonia surpreendentes at� mesmo para os raros remanescentes da antiga e "superada" teoria econ�mica. A depress�o profetizada n�o se materializou. A velha Lei de Say cumpriu sua miss�o equilibradora � contento e o vigor econ�mico americano em breve estava galvanizando o mundo. A prosperidade continuou nos anos 50, sob a prudente administra��o do Presidente Eisenhower, que adotou uma pol�tica de or�amento equilibrado e razo�vel controle da oferta de moeda. Ele n�o cedeu �s press�es intervencionistas nem mesmo durante as leves recess�es do per�odo. � despeito de sua completa hegemonia acad�mica, o keynesianismo s� chegou ao poder na Am�rica no governo Kennedy. A recupera��o americana n�o teria sido suficiente para garantir o crescimento econ�mico mundial em bases capitalistas. A Europa e a �sia precisavam cooperar. E na Europa, foi a Alemanha Ocidental, arrasada pela guerra e sufocada pelo controles socialistas herdados do nazismo e mantido pelos ocupantes, que surpreendeu o mundo. Keynes nada teve a ver com o milagre alem�o. Pelo contr�rio, a pol�tica econ�mica alem� coube aos liberais da velha escola, Ludwig Erhard e Wilhelm Ropke. Em 1948 foram suprimidos os controles de pre�os e c�mbio, a moeda foi reformada, o governo preocupou-se em preservar sua solv�ncia e deixou ao mercado a tarefa da reconstru��o. Em poucos anos a Alemanha era o pa�s mais pr�spero do continente. A Fran�a, por seu turno, s� emergiu do marasmo socialista no fim dos anos 50, quando De Gaulle convocou o veterano economista liberal Jacques Rueff, feroz cr�tico de Keynes, para botar ordem na casa. N�o passa de desinforma��o a id�ia de que foi o Plano Marshall o fator decisivo para a retomada alem� e europ�ia em geral. Se subs�dio por si s� resolvesse alguma coisa, Cuba, que recebeu da URSS dez vezes mais do que toda a Europa sob o Plano Marshall, seria um pa�s opulento. Na �sia, o igualmente destru�do Jap�o foi o grande p�lo da economia de mercado. Para isso contou com alguma sorte. O general MacArthur, o vice-rei ocupante, nutria simpatias pelo liberalismo. O especialista que ele recrutou para lan�ar os alicerces da nova economia japonesa era um banqueiro americano imune ao charme keynesiano. Como no exemplo alem�o, o governo japon�s limitou-se a manter suas finan�as em ordem; o resto ficou por conta do mercado. Gra�as ao trabalho duro e a frugalidade do povo japon�s e o esp�rito de iniciativa de seus empres&aac ute;rios, o Jap�o logo se reergueu. Muita poupan�a e investimentos privados e orienta��o para o com�rcio internacional constitu�ram a raz�o do sucesso nip�nico. Precisamente o que Keynes considerava nefasto! Enquanto a tr�ade EUA-Alemanha-Jap�o comandava o robusto renascimento capitalista, na Gr�-Bretanha, o locus classicus do socialismo fabiano e do keynesianismo, as coisas iam de mal a pior. N�o por falta de otimismo e presun��o. Antes do final da guerra, W. Beveridge publicou o "manifesto fabiano" intitulado Full Employment in a Free Society, programa de a��o pol�tica concebido por uma horda de disc�pulos de Keynes. Os objetivos eram ambiciosos: nada menos do que manejar a nova macroeconomia de modo a assegurar o crescimento econ�mico acelerado com estabilidade de pre�os e, naturalmente, pleno emprego. Os ciclos econ�micos, o desemprego e as depress�es eram fen�menos obsoletos. O triunfo categ�rico do Partido Trabalhista nas elei��es gerais de 1945 assegurava amplo apoio popular e parlamentar ao projeto fabiano. O novo governo estatizou quase toda a ind�stria pesada, os transportes e muito mais, enquanto o que restava de investimento privado era ciumentamente controlado e dirigido. Os tributos subiram �s alturas; em alguns casos a al�quota do imposto de renda chegava a 99%! A taxa de juros foi mantida baixa por anos a fio. No entanto, a economia inglesa atolou-se na estagna��o e foi no devido tempo ultrapassada pela Alemanha, Jap�o, Fran�a e at� pela It�lia. Com o passar dos anos, a "pol�tica monet�ria" e a "pol�tica fiscal", os instrumentos b�sicos de gerenciamento macroecon�mico, tornaram-se um fim em si mesmas, entraram em conflito e uma passou a canibalizar a outra. Os d�ficits or�ament�rios ("pol�tica fiscal") do governo eram cobertos com emiss�o de dinheiro ("pol�tica monet�ria"). Dessa rela��o prom�scua nasceram dois filhotes teratol�gicos: a "pol�tica salarial" e a "pol�tica de pre�os". A infla��o galopante gerada pela cria��o de dinheiro pelo governo para cobrir os rombos em suas finan�as, bem como para estimular a "demanda efetiva", subiu para mais de 20% ao ano e era cada vez mais impopular e intoler�vel. Do mesmo modo, a "pol�tica cambial" fracassava estrepitosamente em seu objetivo de impedir que a infla��o depreciasse a moeda. A libra esterlina, outrora um orgulho nacional, caiu pelas tabelas. O governo punha ent�o a culpa nos sindicatos e nos comerciantes, como sempre acontece, e decretava o controle de pre�os e sal�rios. Conhecemos bem esse roteiro que nos deu o "plano cruzado" e sua prole. Conhecemos melhor ainda os resultados de semelhante insensatez. Entrementes, nos Estados Unidos, as administra��es Kennedy, Johnson e Nixon haviam explodido as contas p�blicas americanas com as custosas extravag�ncias previdenci�rias do welfare state, as corridas espacial e armamentista e a guerra do Vietnam. O d�ficit p�blico americano disparou, juntamente com a infla��o. Por outro lado, a camisa de for�a das taxas de c�mbio fixas decididas em Bretton Woods, sob a autoridade de Keynes em pessoa, se esfarelava. Em um mundo onde todos os governos podiam criar dinheiro � vontade, o c�mbio fixo era um contra-senso. Os pa�ses acabavam exportando suas infla��es, sobretudo os Estados Unidos, j� que o d�lar era a moeda de reserva universal. Em 1971 a (des)ordem monet�ria internacional gestada por Keynes e White em Bretton Woods se desintegrou. Desde ent�o o valor de cada moeda flutua em rela��o �s outras. Mas pelo menos n�o haveria desemprego, visto que os economistas keynesianos juravam de p�s juntos que infla��o e desemprego eram coisas mutuamente excludentes. Certo? Errado. A m�gica inflacion�ria perdeu o encanto nos anos 70, enquanto o desemprego disparava. Foi a �poca da "estagfla��o": depress�o, desemprego e infla��o. Belo epit�fio para a teoria de Keynes. Nesse �nterim, os economistas da Escola de Chicago, liderados por Milton Friedman, moviam uma guerra de guerrilhas contra a ortodoxia keynesiana dominante nos meios acad�micos. Friedman � um aguerrido liberal � Adam Smith em tudo, exceto no plano da moeda. Os monetaristas, como passaram a ser conhecidos, abordam a quest�o do dinheiro de um ponto de vista macroecon�mico. Para eles, a tarefa do governo � manter a oferta de moeda em crescimento pari passu com o aumento da produtividade da economia, de modo que o "n�vel geral de pre�os" permane�a est�vel. Quanto ao mais, as for�as de mercado se encarregam de harmonizar a economia. A vit�ria do monetarismo no in�cio dos anos 80 foi apenas parcial. Na verdade, o seu approach monet�rio foi incorporado � macroeconomia keynesiana, enquanto que suas prega��es ultraliberais em outros campos foram devidamente descartadas. De qualquer modo, a experi�ncia catastr�fica dos anos 70 contribuiu para abalar a soberba dos macroeconomistas. Desde ent�o, as esfuziantes pretens�es macroecon�micas de assegurar o crescimento e o pleno emprego cederam passo � meta bem mais modesta de manter a estabilidade dos pre�os, deixando o resto para o mercado resolver. Esse � o estado da quest�o hoje em dia. A pol�tica macroecon�mica dita de "metas inflacion�rias" � adotada em quase todo o mundo. E o que ela quer dizer em bom portugu�s? Simples. Significa que a m�o direita do governo n�o vai aumentar a quantidade de dinheiro na economia al�m de um limite pr�-estabelecido, n�o importa o que sua m�o esquerda fa�a. Em suma, os governos n�o financiar�o seus d�ficits or�amentant�rios com infla��o, e sim com endividamento. Contudo, mudar o sof&a acute; de lugar n�o soluciona o imbroglio. A mulher continuar� traindo o marido, e o intervencionismo estatal continuar� a fazer estragos. Keynes ent�o estaria bem morto e enterrado, afinal? De jeito nenhum. O problema do monetarismo � que lhe falta uma teoria dos ciclos econ�micos. Para eles, se a moeda for bem administrada, os ciclos simplesmente n�o ocorrer�o. Mas eles ocorrem assim mesmo. Nesses momentos, como o atual, os monetaristas ficam desconcertados, ao mesmo tempo em que surgem legi�es de keynesianos, como zumbis emergindo dos cemit�rios, exigindo dos governos que baixem os juros � zero e que incorram em d�ficits para estimular a "demanda efetiva". Isso � m�sica para os ouvidos dos pol�ticos de todos os partidos. Ademais, a macroeconomia, mesmo remendada pelo monetarismo, como j� analisamos, � um erro e deve ser abandonada tout court. At� que sejam descartados, o pensamento e a a��o macroecon�micos continuar�o a produzir seus efeitos desastrosos de um modo ou de outro. O espectro de Keynes continuar� a nos atormentar enquanto a ideologia fabiana for hegem�nica. Uma Teoria de Terceira para o Terceiro Mundo A derrota do nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial resultou na ocupa��o do terreno ideol�gico pelos dois socialismos sobreviventes, o comunismo e o fabianismo. Foi o in�cio de uma �poca tr�gica, que perdura at� hoje, para a massa heterog�nea de povos e culturas d�spares atulhados sob o r�tulo esp�rio conhecido como Terceiro Mundo. As viol�ncias e arbitrariedades de outrora empalidecem em compara��o com as barbaridades perpetradas pelo socialismo do p�s-guerra contra povos insuspeitos e indefesos. O papel l�gubre do comunismo nessa trag�dia � mais ou menos conhecido. Trataremos com mais detalhes da atua��o fabiana nesse palco, macroeconomia keynesiana inclusa, a qual � menos not�ria. A Teoria Geral se concentrava nas flutua��es de curto prazo no n�vel de atividade econ�mica dos pa�ses desenvolvidos. Coube aos disc�pulos de Keynes, como R. Harrod, elaborar uma teoria macroecon�mica do crescimento no longo prazo. Essa doutrina foi logo encampada pela fina flor do socialismo fabiano, confortavelmente instalada nas comiss�es econ�micas da ONU e nas institui��es multilaterais filhas de Bretton Woods, como o FMI e o Banco Mundial. Homens como o sueco Gunnar Myrdal, o argentino Raul Prebisch e o brasileiro Celso Furtado recomendavam o planejamento econ�mico socialista como panac�ia para os pa�ses pobres romperem as cadeias de seu atraso. O Banco Mundial e outras organiza��es aparentadas abriram generosamente a bolsa para financiar os projetos a serem tocados pelas novas elites dos p�ises descolonizados, devidamente educadas na tradi��o socialista ocidental. Os postulados da teoria desenvolvimentista fabiano-keynesiana eram t�o simples quanto ridiculamente falsos. Um deles era o dito "c�rculo vicioso da pobreza". Os pobres s�o pobres porque s�o pobres. O crescimento pressup�e poupan�a e investimento, sobretudo nos setores de infra-estrutura. Sucede que os pobres do Terceiro Mundo s�o resignados e acomodados, incapazes de reagirem por si mesmos aos incentivos de mercado. N�o possuem capacidade empresarial, nem propens�o para a poupan�a. Os contatos espont�neos com o setor privado do Ocidente n�o eram bem vistos, uma vez que o dogma de que capitalismo significa explora��o do proletariado era aceito mais ou menos abertamente. Ademais, os altos padr�es de consumo do mundo desenvolvido causariam o denominado "efeito-demonstra��o" nos povos subdesenvolvidos, ou seja, incitavam os pobres a imitar os padr�es de consumo dos ricos, com preju�zo para a forma��o de poupan�a e capital. A copiosa literatura desenvolvimentista do p�s-guerra, portadora da aura de sapi�ncia das melhores universidades dos Estados Unidos e da Europa, conclu�a � unanimidade que a via do desenvolvimento do Terceiro Mundo teria que ser o dirigismo estatal. Nunca ocorreu aos fabianos-keynesianos indagar o que os povos subdesenvolvidos realmente desejavam. O crescimento seria imposto � for�a, se necess�rio, pois eles sabiam o que era melhor para as pessoas. A poupan�a teria que ser extra�da � f�rceps, mediante a tributa��o escorchante, o controle do com�rcio exterior e do c�mbio e a infla��o. Os investimentos em ind�stria pesada e infra-estrutura ficariam � cargo do governo, diretamente atrav�s de empresas estatais ou indiretamente com o financiamento de empres�rios nacionais, d evidamente protegidos da concorr�ncia externa e interna merc� de barreiras alfandeg�rias e concess�es monopol�sticas, e mimoseados com fartos subs�dios. Os investimentos diretos privados n�o eram encorajados. Como a poupan�a interna era insuficiente para v�os t�o altos, os recursos necess�rios seriam complementados com empr�stimos a juros zero e longas car�ncias do Banco Mundial diretamente para os governos. Esses governos, por outro lado, poderiam recorrer tamb�m ao mercado financeiro privado internacional, posto que o FMI exerceria a fun��o de avalista junto aos credores externos e fonte de socorros financeiros de emerg�ncia. Um programa econ�mico desse naipe � receita certa para o desastre, o que fica evidenciado pelo fato de que nenhum pa�s que o implementou obteve bons resultados. Mas o pior de tudo nessa cosmovis�o era a enorme concentra��o de poder pol�tico e econ�mico nas m�os do estado, o que era um convite ao despotismo e � corrup��o em grande escala A hist�ria catacl�smica do programa fabiano para o Terceiro Mundo ainda est� por ser contada. Um tra�o peculiar do fabiano do Primeiro Mundo � que ele se d� ao luxo de ser rom�ntico no que toca ao mundo subdesenvolvido. Os ditadores mais pantagru�licos e as tiranias mais genocidas merecem invariavelmente a simpatia fabiana, sob a condi��o de se declararem de esquerda. Ao mesmo tempo em que ditaduras de direita como a sul-africana e a chilena atra�am a f�ria dos fabianos hegem�nicos nos meios letrados e na imprensa americana e europ�ia, regimes esquerdistas assassinos tinham campo livre para promover suas sinistras aventuras de engenharia social sob a indiferen�a geral. Na �frica, sobretudo, essa alian�a t�cita entre comunistas e fabianos de um lado e as cru�is oligarquias locais de outro consumou massacres inenarr�veis at� para um Joseph Conrad. O Banco Mundial n�o suspendeu o financiamento dos governos comunistas et�ope e cambojano, por exemplo, nem mesmo quando as respectivas popula��es eram trucidadas por esses mesmos governos. Entre os povos roubados por hiperinfla��es arrasadoras, arruinados por d�vidas p�blicas estratosf�ricas e subjugados pelo chicote do leviat� estatal est�, � claro, o povo brasileiro. Com exce��o dos curtos per�odos de semi-liberalismo conduzidos por Eug�nio Gudin no governo Caf� Filho, Campos-Bulh�es no governo Castelo Branco e Gustavo Franco no in�cio do governo FHC, o desenvolvimentismo vicejou entre n�s, � esquerda e � direita do espectro pol�tico. O estatismo brasileiro, em especial o de Vargas e Ernesto Geisel, legou uma sociedade marcada pela injusti�a, pelo privil�gio e pela pobreza. Infelizmente, a indigesta gororoba doutrin�ria de Celso Furtado, Maria da Concei��o Tavares, Bresser Pereira e seus in�meros disc�pulos, condimentada com doses iguais de marxismo e keynesianismo, ainda vai continuar a envenenar o nosso povo por muito tempo, pois essa gente continua influente. Romper a cortina de fuma�a ideol�gica que atribui todos os males dos pa�ses pobres ao capitalismo predat�rio n�o � f�cil. Dos poucos autores que trataram francamente do tema, os melhores s�o o economista brit�nico Peter Bauer, o fil�sofo franc�s Jean-Fran�ois Revel e o jornalista venezuelano Carlos Rangel. S�o as testemunhas corajosas e solit�rias de um per�odo negro da hist�ria da humanidade que ainda n�o acabou. Felizmente nem todos os povos do Terceiro Mundo sucumbiram ao rolo compressor fabiano-comunista. Alguns escaparam por confiar mais na ordem contratual volunt�ria de mercado do que nos poderes coercitivos de pol�cia. Na Europa, a Irlanda, antes lend�ria por sua mis�ria, hoje nada em dinheiro. Na Am�rica Latina, o solit�rio Chile de Pinochet, um caso in�dito de ditador n�o estatista no continente, foi o �nico a escolher a economia de mercado. Atualmente os chilenos colhem os frutos dessa decis�o. Na �sia, sobretudo, os chineses de Hong Kong, Formosa e Cingapura constru�ram os mais vibrantes emp�rios comerciais do mundo. A Cor�ia do Sul tamb�m preferiu o mercado, embora temperado com doses maiores de estatismo. Mas foi o suficiente para humilhar, pelo contraste, a arruinada Cor�ia comunista. O sucesso do capitalismo nesses pa�ses ilustra dolorosamente o equ�voco do socialismo fabiano-keynesiano seguido pelo resto do terceiro Mundo. Conclus�o Chegou o momento de unir as pontas dos argumentos desenvolvidos e responder �s indaga��es formuladas no in�cio do texto. Keynes foi ideologica, politica e intelectualmente um socialista fabiano. Com sua teoria macroecon�mica, contribuiu decisivamente para o triunfo quase completo dessa corrente pol�tica em nossos dias. H� quem garanta que Keynes foi na verdade um liberal, embora adaptado aos tempos anti-liberais em que viveu, provando essa assertiva com cita��es descontextualizadas. Isso n�o � verdade. Podemos produzir cita��es de Keynes contendo elogios rasgados ao nazismo (na pref�cio � edi��o alem� da Teoria Geral) e ao comunismo (em resenha de um livro apolog�tico de Sidney e Beatrice Webb sobre a URSS de Stalin), mas n�o seria correto deduzir delas que ele era nazista ou comunista. Isso ele realmente n�o era. Mas tampouco pode-se concluir de um exame do conjunto de sua obra que ele foi um liberal, salvo no sentido americano desse termo, que se traduz precisamente por socialista fabiano. � fato que Keynes militou no Partido Liberal ingl�s, mas e da�? Essa agremia��o pol�tica nada tinha de liberal j� no tempo de H. Spencer, meio s�culo antes. O persistente mito de que Keynes teria salvo o capitalismo � um disparate. Sua obra-prima n�o passa de racionaliza��o ad hoc para as pol�ticas empreendidas por todos os governos desde o in�cio da depress�o, cujo fracasso foi total. Ap�s a guerra, o risorgimento do capitalismo ocorreu apesar das teorias de Keynes, n�o por causa delas. Os keynesianos costumam invocar a vantagem de ocupar uma posi��o intermedi�ria entre o socialismo sem mercado (nazismo e comunismo) e o capitalismo laissez-faire. Assim, apontam o fato de serem criticados severamente tanto pe los marxistas (ex: Marx contra Keynes, de John Eaton), como pelos liberais cl�ssicos (ex: The Failure of the "New Economics", de Henry Hazlitt), como prova cabal da veracidade de suas teses. � claro que se trata de um sofisma. A virtude nem sempre est� no meio. As teorias devem ser avaliadas segundo sua coer�ncia l�gica interna e a validez de suas premissas. E nesse teste o keynesianismo n�o passa. O socialismo fabiano �, parodiando o dito de Sartre sobre o marxismo, a filosofia insuper�vel do nosso tempo. Um esclarecimento terminol�gico: o que eu chamo de socialismo fabiano � mais conhecido na linguagem pol�tica corrente como social-democracia ou terceira via. Nos EUA, num clamoroso delito de estelionato sem�ntico, os socialistas fabianos se auto-denominam "liberais". Prefiro, todavia, o termo fabiano por entender que este precedeu a social-democracia, tal como ela � em nossos dias, historica e doutrinariamente. O socialismo fabiano j� era desde suas origens o que a social-democracia veio a ser mais tarde. N�o � uma doutrina fixada em um corpus org�nico e compacto, como foi o marxismo. Pelo contr�rio, � um complexo bastante frouxo de id�ias soltas e incorporadas como lugares-comuns ao pensamento cotidiano. E por isso mesmo � muito mais eficiente como ideologia do que o marxismo. Este explicitava seus conceitos em uma doutrina rigorosamente estruturada e autodenominada "cient�fica", deixando consequentemente o flanco aberto para ataques e refuta��es realmente cient�ficos. A fragilidade interna do sistema marxista sempre foi f�cil de ser notada, e muito mais ainda a sua clamorosa incompatibilidade com os fatos da vida e a evolu��o hist�rica. O sectarismo e a pretens�o de monop�lio do messianismo de seus adeptos tamb�m contribuiu para alienar socialistas de tend�ncias menos r�gidas. A economia sem mercado deduzida do marxismo revelou-se completamente insustent�vel, exatamente como Ludwig von Mises como previra. Seu fasc�nio pela revolu��o violenta e depuradora, recurso absolutamente desnecess�rio � e mesmo contraproducente � para a cria��o do socialismo � mais um tra�o importante para o fracasso do comu nismo. Analisando a coisa sub specie aeternitatis, na linha de um Bertrand de Jouvenel ou um Alfred Jay Nock, � poss�vel concluir hoje que tanto o comunismo quanto o nazi-fascismo foram desvios, aberra��es, que perturbaram mas n�o impediram o progresso do bem-sucedido socialismo fabiano. H� mais de 100 anos o socialista alem�o Eduard Bernstein, que passara um bom tempo em Londres em contato com os fabianos, deflagrou um debate no seio do partido marxista de seu pa�s alcunhado de "revisionismo". Em resumo, Bernstein argumentava que o marxismo era uma teoria err�nea e deveria ser substitu�da por uma doutrina mais flex�vel e reformista na linha do socialismo fabiano, cuja estrat�gia moderada estava alcan�ando �timos resultados. A rea��o indignada dos guardi�es da ortodoxia marxista, Kautsky, Rosa Luxemburgo e outros, adiou a convers�o da social-democracia ao fabianismo por algum tempo. Depois da Primeira Guerra, na esteira do cisma no marxismo levado a cabo por L�nin, os sociais-democratas abandonaram de fato, e depois de jure, o marxismo ortodoxo, situando-se desde ent�o na esfera do reformismo fabiano. Foi uma op��o inteligente, posto que o comunismo leninista era um beco-sem-sa�da hist�rico. Presentemente o socialismo fabiano � t�o hegem�nico que at� mesmo a migra��o dos marxistas ortodoxos do leninismo para as id�ias de Gramsci e da Escola de Frankfurt pode talvez ser interpretada como um reconhecimento tardio do erro estrat�gico cometido por L�nin e uma convers�o t�cita ao fabianismo. O livro "Imp�rio" de Negri e Hardt, muito lido e aplaudido pela intelligentsia esquerdista da moda, me parece uma obra profundamente conservadora, sintoma da predomin�ncia fabiana atual. As deblatera��es te�ricas dos autores soam como um marxismo-leninismo requentado e temperado com pitadas de p�s-modernismo. Mas o que deve ser destacado � que o panfleto � endere�ado � "multid�o" global, n�o ao proletariado ou ao campesinato. E que "multid�o" � essa? S� pode ser a "lumpem-intelligentsia" fabricada em quantidades industriais nas universidades de todo o globo, frequentadora dos ditos protestos anti-globaliza��o que s�o o dernier cri do fabianismo. Nesses alentados centros acad�micos reinam imp�vidos os letrados fabianos, como Negri e Hardt. Trata-se, pois, de um sistema de reprodu��o e perpetua��o de uma estrutura de poder, n�o de uma revolu��o. Os intelectuais fabianos j� est�o no poder. O manifesto � destinado a recrutar os futuros Negris e Hardts nas gera��es vindouras. O socialismo fabiano � um movimento conduzido por uma casta de intelectuais iluminados cujo objetivo � o controle da sociedade atrav�s do aparelho estatal acompanhado da dissemina��o de uma ideologia legitimadora, e nisso n�o difere do marxismo ou do nazismo. Todo socialismo � uma conspira��o de elites pensantes com vistas ao poder pol�tico em benef�cio pr�prio. A superioridade do fabianismo reside em sua flexibilidade e adaptabilidade. O mercado � absorvido e incorporado na medida em que permite a pr�pria sobreviv�ncia do sistema, pois sua supress�o total � invi�vel. Mas n�o se trata de economia de mercado capitalista, e sim de um "setor privado" estritamente regulado e manietado, sujeito a altas cargas tribut�rias e uma mir�ade infernal de regulamentos, licen�as, subs�dios etc incompat�veis com a liberdade econ�mica e a dignidade humana; e de um "setor p�blico" gigantesco, tentacular, parasit�rio, que alimenta seu furor esbanjador confiscando a riqueza produzida no "setor privado". Nesse "setor p�blico" o intelectual fabiano reina absoluto, ora como pol�tico, ora como burocrata, frequentemente como pol�tico e burocrata simultaneamente. Gilberto Freyre cunhou o feliz neologismo "intelectu�rio" para designar essa esp�cie. O falecido soci�logo Pierre Bourdieu, por exemplo, combatia o "neoliberalismo" com seus "contrafogos" fabianos de uma humilde c�tedra no Coll�ge de France, onde o distinto p�blico pagava compulsoriamente seus projetos de pesquisa e a numerosa equipe necess�ria para tais projetos. O que Bourdieu produziu de relevante e permanente para a sociologia? Absolutamente nada. Seu intuito principal declarado era o de destruir a ci�ncia econ�mica. Ora, ent& atilde;o todo o dinheiro dos contribuintes franceses despejado nessa epop�ia foi em v�o, pois o que Bourdieu pretendia fazer Keynes j� fizera meio s�culo antes. Poder�amos listar uma multid�o de "bourdieus" brasileiros, especialmente os intelocratas da USP, que, refestelados em prestigiosas c�tedras universit�rias, transitam alegremente entre um alto cargo p�blico e outro, entre uma tribuna privilegiada e regiamente paga em um grande jornal e outra. A volumosa produ��o pol�tico-ideol�gica desse pessoal contrasta com a inanidade de sua contribui��o para o progresso de seus respectivos campos cient�ficos. Emir Sader, Marilena Chau� e, naturalmente, o soci�logo Fernando Henrique Cardoso, s�o exemplares t�picos dessa rica fauna. Malgrado pesadamente obstru�das, as for�as de mercado do setor formal infundem suficiente vitalidade e movimento a um organismo social que, na sua aus�ncia, apodreceria e morreria como no caso sovi�tico. Ademais, as energias criativas individuais, sufocadas pela elefant�ase estatal, encontram v�lvulas de escape na ilegalidade (a economia "informal", "invis�vel", "subterr�nea", "mercado negro" etc), propiciando o ganha-p�o de milh�es de pessoas e sustentando economias ultra-estatizadas � sobretudo na America Latina -, que de outro modo desabariam de uma hora para outra. Um exemplo recente ocorreu na Argentina, quando o governo congelou os ativos financeiros da popula��o e cortou os fluxos monet�rios que alimentam o vasto setor subterr�neo da economia daquele pa�s. Em quest�o de dias o governo caiu e nenhum outro conseguir� sobreviver por muito tempo se n�o permitir que o dinheiro, tangido para os corralitos, volte a percorrer os circuitos da economia il�cita. Singular � o papel dos empres�rios no esquema fabiano. S�o tolerados, desde que cumpram o papel que lhes destinam na pantomina social fabiana: o de bodes-expiat�rios. O empresariado leva a culpa de todos os males que afligem a humanidade. Sua gan�ncia, ego�smo, avidez e rapacidade respondem pela mis�ria de bilh�es de pessoas, muito embora quase todas elas vivam em pa�ses onde o capitalismo nunca existiu, ou s� recentemente passou a exercer seu costumeiro mister de eliminar gradualmente a pobreza das massas, como a China, �ndia, Bangladesh e quase toda a �frica sub-saariana. O empres�rio � um desprez�vel explorador do trabalho alheio, cuja cupidez s� � contida pela benevolente intelectu�ria fabiana munida dos poderes coercitivos estatais, sempre pronta a "proteger" os trabalhadores com leis "sociais" que inevitavelmente geram desemprego, subemprego e baixos sal�rios para os "protegidos". Ademais, sua busca inescrupulosa por lucros amea�a destruir o planeta, merc� da degrada��o do meio-ambiente. Os empres�rios devem suportar calados essa cantilena repetida diariamente nos meios de comunica��o por eles mesmos criados e mantidos. As empresas de comunica��o, ali�s, est�o tacitamente obrigadas a destinar os melhores empregos e os mais gordos sal�rios aos intelectuais fabianos mais influentes, e dar-lhes carta branca para definir a linha editorial e ideol�gica dos jornais e redes de TV. O mesmo acontece nas maiores casas editoriais do pa�s, que s� publicam o que agrada a intelligentsia. As demais empresas devem contribuir generosamente para os partidos pol�ticos que, por tr�s das apar�ncias de hostilidade m�tua, est�o perfeitamente unidos no consenso fabiano. Devem financiar as ONGs, esse novo e rico f il�o atualmente explorado pela intelectu�ria fabiana, e suportar estoicamente os insultos e an�temas com que essas mesmas ONGs lhes pagar�o. Isso, entretanto, n�o significa que devemos ter piedade do empresariado. Refiro-me por esse termo ao big business, que em troca de exercer esse papel de geni para os fabianos, � recompensado de mil formas pela benevol�ncia estatal, seja atrav�s de subs�dios, de tarifas alfandeg�rias que excluem a concorr�ncia externa, concess�es, monop�lios, licen�as, incentivos, lacunas na legisla��o tribut�ria e, sobretudo, pelo estrangulamento das pequenas empresas e empres�rios via tributa��o extorsiva e regulamenta��o labir�ntica das atividades econ�micas, o que equivale a suprimir tamb�m a concorr�ncia interna. Um exemplo recente dessa promiscuidade � o epis�dio da Enron, que financiou Clinton, Gore, Bush e quase todos os pol�ticos de ambos os partidos do congresso americano, sem falar em doa��es a ongs ambientalistas e apoio ao Tratado de Kyoto. Essa empresa obtinha privil�gios em paga, como um empr�stimo de 650 milh�es de d�lares do Ex-Im Bank (o banco � estatal e o dinheiro � do contribuinte americano) e sabe-se l� o que mais. Para variar, a fal�ncia da Enron foi debitada no passivo do capitalismo pela m�quina de propaganda fabiana e apresentada como prova cabal de mais uma "falha do mercado". Ora, pelo contr�rio, essa bancarrota representa a principal virtude da economia de mercado, isto �, a de que a verdade sempre aparece e produz efeitos. O erro empresarial � castigado com preju�zos e, se n�o revertido a tempo, causa a fal�ncia e a exclus�o do rol dos produtores. O epis�dio da Enron revela que nem mesmo a cobertura de dois presidentes dos Estados Unidos, seus funcion�rios de primeiro escal�o e de quase toda a classe pol�tica parlamentar americana pode impedir por mui to tempo que a soberania dos consumidores prevale�a e a m� gest�o empresarial seja conhecida do p�blico e punida. No "setor p�blico", contudo, o poder do governo subjuga a preponder�ncia dos conumidores e os obriga a arcar com os custos dos infal�veis rombos financeiros das empresas p�blicas. A ferrovia estatal americana Amtrak , por exemplo, opera no vermelho desde sua inaugura��o h� tr�s d�cadas, acumulando um preju�zo de pelo menos 25 bilh�es de d�lares. Fal�ncia? Jamais! Nem � bom falar das estatais brasileiras, como a Petrobr�s. O toque final da hipocrisia fabiana fica por conta do j� mencionado Paul Krugman, que est� usando o caso da Enron para suas arengas farisaicas anti-capitalistas e para exigir mais regulamenta��es estatais draconianas do mercado, muito embora as regulamenta��es draconianas j� existentes n�o tenham evitado a derrocada fraudulenta da empresa. Pois adivinhem quem andou fazendo parte do conselho de dire��o dessa mesma Enron h� algum tempo? Ningu�m menos do que... Paul Krugman. Recorrendo a um chav�o marxista-hegeliano para ilustrar a coisa, o socialismo fabiano � uma s�ntese dial�tica entre o mercantilismo e o liberalismo, retendo daquele o complexo de rela��es prom�scuas entre os agentes estatais e sua clientela em detrimento dos consumidores e contribuintes, e cobrindo-se com o regime democr�tico oriundo do liberalismo, embora apenas como capa ideol�gica apta a propagar a ilus�o de controle popular do sistema pol�tico. A democracia, simples meio de escolha e substitui��o peri�dica da lideran�a pol�tica, � elevada a fim em si mesma e "valor universal". Dessa maneira, os verdadeiros valores universais, os direitos individuais, s�o sistematicamente violados pelas leis mais estapaf�rdias, no entanto legitimadas por serem "democr�ticas". Quem ocupa hoje o centro nervoso desse ordenamento social, como benefici�rios e classe exploradora, s�o os intelectuais fabianos, enquanto que, no mercantilismo de outrora, os manda-chuvas eram o monarca e sua corte de aristocratas, cl�rigos, funcion�rios e empres�rios fi�is. Deve-se reconhecer que essa "troca de guarda" significou um retrocesso, vez que a aristocracia de antigamente ao menos possu�a um sentimento de noblesse oblige e bem ou mal se pautava segundo certas normas de conduta submetidas a um c�digo fixo de valores absolutos, derivado do cristianismo. Essas normas morais absolutas estavam consagradas em termos bastante claros na B�blia, sendo acess�veis � gente simples do povo. Por mais perversos que fossem os nobres e os cl�rigos, o contraste entre a moral aceita e seus atos era facilmente percept�vel. N�o � tarefa simples inverter e perverter o significado dos Dez Mandamentos ou do Serm�o da Montanha. O intelectual socialista, todavia, al�ado desde Rousseau e os philosophes iluministas ao papel de guia espiritual e moral da humanidade, nega toda moral absoluta e despreza suas fontes religiosas. Qual � a fonte da moral fabiana? Kant? Hegel? Marx? Nietzsche? Moore? Bertrand Russell? Dewey? Sartre? Foucalt? Jameson? Gramsci? Ou um mix de todos eles e muitos mais? Que pessoa comum � capaz de deduzir dos calhama�os impenetr�veis desses fil�sofos normas retas de comportamento social? No fim das contas, a �tica fabiana se resume a acatar como certo ou errado tudo aquilo que as pitonisas oficiais do culto, os intelectuais da moda, disserem que � certo ou errado, conforme as circunst�ncias e at� segunda ordem. Sequestrar por motivos pol�ticos, por exemplo, era "certo" na �poca da "luta armada"; hoje � "errado" por atrapalhar a escala da eleitoral do PT. At� a Igreja Cat�lica aderiu ao socialismo, sobretudo na America Latina. O desolador panorama �tico que nos cerca � resultado direto dessa hegemonia fabiana na cultura. Hayek denominou o per�odo entre a publica��o do Manifesto Comunista (1848) e a do romance de Orwell 1984 (1948) de s�culo do socialismo. Depois que ficou claro que a ordem social descrita no segundo era a consequ�ncia inevit�vel da filosofia exposta no primeiro, o socialismo entrou em decl�nio. O eminente pensador austr�aco estava absolutamente certo no que concerne ao socialismo comunista. O socialismo fabiano, contudo, est� longe de perder prest�gio. O que � a atual Uni�o Europ�ia sen�o um regime fabiano? O consenso � t�o forte que dissidentes de direita, como o italiano Berlusconi, nada conseguem fazer para se contrapor � avalanche fabiana. O pensamento liberal-conservador-libert�rio passou por uma vigorosa renascen�a depois da Segunda Guerra e chegou a exercer consider�vel influ�ncia pol�tica nos anos 80. O colapso do comunismo gerou a esperan�a de um futuro melhor para a humanidade. Por�m, deve-se admitir que esse otimismo era prematuro. A contra-revolu��o intelectual anti-socialista fracassou. Foram feitas concess�es demais aos fabianos, e a menor delas n�o foi certamente a compactua��o com a macroeconomia legada por Keynes. Contudo, se � verdade o que escreveu T.S. Eliot, na hist�ria n�o h� causas perdidas nem causas ganhas, somente oportunidades. O socialismo fabiano, ent�o, n�o � o fim da hist�ria. REFER�NCIAS: B. ANDERSON, Economics and the Public Welfare P. T. BAUER, Equality, the Third World and Economic Delusion P. T. BAUER, Dissent on Development P. T. BAUER, Reality and Rethoric W. BEVERIDGE, Full Employment in a Free Society E. v. BOHM-BAWERK, Marx and the Close of his System J. BUCHANAN e G. TULLOCK, The Calculus of Consent E. CANNAN, AnEconomist�s Protest O de CARVALHO, O Imbecil Coletivo D. DILLARD, The Economics of John Maynard Keynes J. EATON, Marx contra Keynes P. JOHNSON, Tempos Modernos B. d. JOUVENEL, Du Pouvoir J. M. 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