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Leituras recomendadas – 134

 

Partidos do Crime

por M. Pio Corr�a
Jornal do Brasil, 18 de mar�o de 2002

 

O senhor ministro da Justi�a, segundo publicado na imprensa, disse que as a��es do PCC (Primeiro Comando da Capital) �preocupam muito o governo�. N�o � para menos. Mas o senhor ministro, t�o �preocupado� com o PCC, pode preocupar- se tamb�m com as atividades de outros Partidos do Crime, que atualmente multiplicam-se. Al�m do PCC temos hoje o CDL (Conselho Democr�tico da Liberdade) e o CRBC (Comando Revolucion�rio Brasileiro da Criminalidade). Isso em S�o Paulo. No Rio de Janeiro, j� temos as siglas CV (Comando Vermelho), TC (Terceiro Comando), ADA (Amigos dos Amigos). Pode n�o estar longe o dia em que todas essas siglas venham a ser registradas oficialmente como representando partidos pol�ticos, congregando extenso eleitorado cativo nas favelas de nossas cidades.

No Estado de S�o Paulo, nem na cadeia h� seguran�a. Em todos os pres�dios do Estado, detentos assassinam outros presos (�s vezes com requintes de ferocidade, como no caso do detento do qual seus matadores deceparam a cabe�a e arrancaram o cora��o). As rebeli�es em pres�dios s�o di�rias, e acompanhadas pela morte de v�rios detentos, chacinados por seus companheiros. Tudo isso nas barbas das autoridades penitenci�rias, que, ali�s n�o t�m mais autoridade alguma. O l�der da rebeli�o no Cadei�o de Pinheiros, ao ser transferido para outro pres�dio, anunciou que iria para l�, no seu lugar, outro integrante do PCC, que ir� �assumir o comando da cadeia� � segundo entrevista concedida � reportagem de O Estado de S. Paulo por outro detento, por meio de telefone celular. Ali�s, tudo � comandado, de um pres�dio para outro, via telefones celulares. As autoridades informam que o �nico meio de impedir essas liga��es seria a instala��o em cada pres�dio de aparelhos capazes de interferir nas liga��es dos celulares de posse dos senhores detentos. Pareceria que houvesse um meio mais simples: a apreens�o dos celulares nas celas (como chegam l�?) e impedimento da introdu��o de novos aparelhos, mediante rigorosa revista dos visitantes. Mas est� bem claro que as autoridades(?) n�o t�m coragem de tomar tais medidas, temendo por suas vidas no caso de novas rebeli�es.

Com raz�o �preocupa-se� o senhor ministro da Justi�a. Talvez seja para Sua Excel�ncia o momento de cogitar de uma a��o federal, ante a impot�ncia das autoridades estaduais, para desbaratar todos esses Partidos do Crime � dos quais j� existe um tamb�m no Paran� � o Primeiro Comando do Paran� (PCP). Com a palavra o senhor ministro da Justi�a. A verdade �, visivelmente, que tanto em S�o Paulo como no Rio de Janeiro, as for�as da ordem, as autoridades leg�timas, acham-se na defensiva ante o poder e a aud�cia crescentes do crime organizado. Policiais s�o ca�ados e abatidos pelo simples fato de serem identificados como tais. Tribunais s�o invadidos por bandidos armados e advogados s�o abatidos em pleno f�rum da Justi�a. O crime organizado ordena o fechamento do com�rcio de bairros inteiros � e � obedecido. Representantes do povo, ocupantes de cargos eletivos, s�o seq�estrados e assassinados. Ao mesmo tempo que campeia verdadeira guerrilha urbana facinorosa em nossas cidades, uma guerrilha rural invade propriedades, planta e pastoreiaem terras alheias, expulsando delas os leg�timos donos.

H� muito tempo venho defendendo a id�ia da cria��o de uma Pol�cia Federal militarizada para apoiar, com fort�ssimo armamento e apetrechamento, a a��o das pol�cias estaduais, que v�m fazendo das tripas cora��o para desempenhar honestamente a sua fun��o. Elas tamb�m devem ser refor�adas e providas dos melhores meios para dar com-bate ao crime. Mas, a meu ver, uma for-te mil�cia federal indispens�vel para as duras batalhas que ser� necess�rio travar para impor em todo o territ�rio nacional o imp�rio da lei e garantir a seguran�a dos cidad�os. Essa for�a poderia, ser apoiada, instru�da, e talvez enquadrada pelas For�as Armadas, que �s�o do ramo�. O seu recrutamento deveria obedecer a crit�rios de ordem f�sica, intelectual e moral. A bacia de capta��o para a mil�cia poderia mesmo contar, em primeiro lugar, com reservistas das For�as Armadas. S� a Brigada P�ra-Quedista do Ex�rcito licencia, cada ano, 1.200 reservistas da melhor qualidade, homens de excelente f�sico, acostumados ao perigo e amando os desafios. Outra fonte importante seria o Corpo de Fuzileiros Navais, tropa de elite, afeita a operar em condi��es dif�ceis. N�o olvidando os reservistas dos batalh�es de Opera��es Especiais do Ex�rcito, e os dos v�rios batalh�es da Pol�cia do Ex�rcito.

Essa nova, inteligente e aguerrida For�a Federal deveria usar com orgulho uma farda respeitada pela popula��o civil, e conquistar a confian�a e a coopera��o desta. Seria ela um ar�ete invenc�vel contra as tropas da criminalidade, operando outrossim em �ntimo conv�vio com as popula��es. Apoiada, evidentemente pelos servi�os de intelig�ncia das For�as Armadas e das Pol�cias Militares. Uma presen�a permanente dela no terreno, intercalada, se preciso, com �miss�es de busca e destrui��o de quadrilhas�, afian�aria o imp�rio da lei e a autoridade dos governos estaduais. Nossas pris�es t�m paredes porosas � mesmo quando n�o derrubadas por marginais. Ali entram livremente armas, drogas e telefones celulares. Dali saem, quando querem, bandidos de toda esp�cie. Al�m disso, nossos c�rceres n�o oferecem seguran�a para os infelizes detentos. Parece ser urgente, portanto, a constru��o de um superpres�dio de seguran�a total, em local isolado, de dif�cil ingresso e mais dif�cil egresso.

 

M. Pio Corr�a � embaixador aposentado