Leituras recomendadas 133
A certeza das incoer�ncias
A Coer�ncia das incertezas: s�mbolos e mitos na fenomenologia
hist�rica luso-brasileira
Em estilo sincopado, as hist�rias brasileira e portuguesa se desenvolvem com coer�ncia e certezas. Esta � a convic��o que surge da leitura de "A Coer�ncia das Incertezas". Ao iniciar a trajet�ria, o leitor sente alguma dificuldade. As trilhas parecem levar a lugar nenhum. H� um rompimento com o usual ou costumeiro na descri��o dos acontecimentos hist�ricos. Depois, adaptando-se ao estilo e passando a entender as veredas indicadas pelos s�mbolos constru�dos pelo autor, a partir de fatos reais, o envolvimento torna-se pleno e a �nsia por conhecer novos sinais e novas situa��es transforma-se em obsess�o, muito mais a Freud que a Jung. A�, em rito obsessivo, avan�a-se e descobre-se que as hist�rias entrela�adas de portugueses e brasileiros se encontram suportadas por s�mbolos n�tidos. O dom�nio da "cruz" e a presen�a do "patrimonialismo" com "xenofobia" e "nepotismo" se encontram revelados desde os prim�rdios da nacionalidade luso-portuguesa. Esses s�mbolos levam a outros. As "flechas" e as "armadilhas" s�o colocadas a todo tempo na caminhada das pessoas. Estas, cheias de cobi�a, querem a "terra", o "ouro", a "madeira" e, em busca desses elementos, utilizam-se da "cruz", das "flechas" e das "armadilhas". Neste enredo, o l�der se utiliza dos s�mbolos, como em qualquer outras terras, mas, por aqui, busca, sem preocupa��o moral, o poder pessoal, utilizando-se de elementos vindos do exterior sem qualquer preocupa��o com os valores culturais locais. A pr�tica � acentuada no per�odo pombalino e permanece at� nossos dias. Ontem o francesismo, o anglicanismo ou o germanismo; hoje a globaliza��o modelada pelos valores americanos. Assim, caminhamos sem a capacidade de gerar identidade pr�pria. Houve momento diferenciado. Este se deu quando Portugal, "cujo povo, de suprema intui��o e intelig�ncia, tra�ava seu projeto de unir e ligar no planeta diferentes povos e culturas". Depois, findo o ciclo atl�ntico, chegam novos s�mbolos, que derrubam a "cruz", os "nobres" e os "burocratas". Implanta-se a corrup��o e o autoritarismo, como herdeiros da Inquisi��o e das pr�ticas religiosas deformadoras. Permanecem, contudo, os s�mbolos antigos: o "bras�o" e o "ouro". Os nobres desfilam "status", "ainda que isso significasse apenas simula��o". A partir da amarga legenda de d. Sebasti�o, paradoxalmente, nasce o "cad�ver" como s�mbolo. Jo�o Pessoa, na Revolu��o de 1930, Jaime da Silva Telles e Dem�crito de Souza Filho colocam fim ao Estado Novo e, em anos seguintes, Get�lio Vargas se transforma em cad�ver e este em s�mbolo, ap�s o seu suic�dio. Esta defer�ncia ao s�mbolo "cad�ver" origina-se do "catecismo fan�tico", que imp�e o sofrimento para se atingir bem-aventuran�as. Os jejuns prolongados e as agonias de fome levam a exaust�o da vida e aparecem como caminho para se atingir o reino celeste, como apregoou Ant�nio Conselheiro, v�tima de outro s�mbolo, o "bacamarte" empunhado pelo Estado. Com a chegada da fam�lia real ao Brasil, um novo s�mbolo se revela �quela elite desorientada que aporta no pa�s. Pela leitura do jornal parisiense "Monitor", soube d. Jo�o 6�, antes mesmo da invas�o francesa, que fora destronado. O ve�culo de comunica��o apresentava o novo. Era jornal e este produz um s�mbolo que vem at� nossos dias com insist�ncia e presen�a, o "papiro". No "papiro", encontraram os povos daqui e de al�m-mar o suporte para suas novas fic��es, entre elas, a mais expressiva, o "constitucionalismo". O "papiro" suporta todas as idealiza��es e, mistificando a realidade, a transforma em utopia jamais alcan��vel. Ao atingir a contemporaneidade, o autor n�o resiste e se transforma em cr�tico �cido e amargo de personagens e acontecimentos. J�nio Quadros surge como idealizado pela plebe, como demagogo salvador, brandindo o s�mbolo da "vassoura", como se fosse simulacro da lan�a templ�ria. Tancredo Neves � indicado como salvador do sistema que sempre condenou. Jos� Sarney sucedeu o morto antes de ser presidente e passa a ser "guiado por imprensa med�ocre e por jornalismo alienado de inspira��o esquerdista". Ulisses Guimar�es, o her�i das diretas-j�, � apontado como "declaradamente oportunista, revelou-se energ�meno pol�tico". O espa�o maior � reservado � social democracia e a seus agentes brasileiros. S�o identificados como portadores da bagagem da Contra-Reforma. Apresentam-se como titulares do Saber da Salva��o, montados no cavalo do atraso. E o atual governo? Um punhado de burocratas socialistas, travestidos de liberais, egressos das universidades p�blicas, dirigido pelo corporativismo das estatais e por professores-banqueiros com fantasia de esquerda. No v�rtice, Fernando Henrique Cardoso, que, no governo, disfar�ou a linguagem socialista, iludindo a opini�o p�blica com o artif�cio da moeda est�vel, o real, gra�as a juros elevad�ssimos pagos ao capital especulador. A pergunta final do autor: que s�mbolos conduzem um pa�s com potencialidades ao caos e ao risco de secess�o? Ele responde de pronto. Estes s�mbolos s�o "cruzes", "estandartes" e "bras�es" transmudados em "passeatas", "foices", "martelos" e o "vermelho". Cabe ao leitor, ao t�rmino da leitura, formular dois pedidos ao autor: a elabora��o de um gloss�rio para identificar tantos s�mbolos e tantas figuras e o acr�scimo, na longa s�rie produzida, de mais um s�mbolo: a "dinamite", usada em muitos passos at� atingir sua pot�ncia maior nos momentos derradeiros da obra.
CL�UDIO LEMBO � professor de direito constitucional na Universidade Presbiteriana Mackenzie e autor de "O Futuro da Liberdade" e "A Op��o Liberal", entre outras obras. |