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Leituras recomendadas – 130

 

Dante às avessas

por Percival Puggina

 

Observe as frases que transcrevo a seguir. 1) "O �dio como fator de luta. O �dio intransigente ao inimigo, que impulsiona al�m das limita��es naturais do ser humano e o converte em uma efetiva, seletiva e fria m�quina de matar. Nossos soldados t�m que ser assim. Um povo sem �dio n�o pode triunfar sobre um inimigo brutal". 2) "Que vamos fazer pelos negros? N�o vamos fazer nada porque nada fizeram pela revolu��o". 3) "At� agora os camponeses n�o foram mobilizados mas atrav�s do terrorismo e da intimida��o, n�s os ganharemos." 4) � necess�rio que todo guerrilheiro urbano mantenha em mente que s� poder� sobreviver se estiver disposto a matar os policiais e todos aqueles dedicados � repress�o. E se est� verdadeiramente dedicado a expropriar a riqueza dos grandes capitalistas, os latifundi�rios e os imperialistas". Qual seu conceito, meu caro leitor, sobre tais id�ias e sobre quem n�o apenas as expressa mas se deixa conduzir por elas?

As tr�s primeiras frases s�o do senhor Ernesto Che Guevara. A �ltima � de Carlos Marighella, l�der da Alian�a Libertadora Nacional, em seu conhecido e v�rias vezes traduzido Mini-manual do guerrilheiro urbano. Tornou-se indispens�vel reproduzi-las em vista das declara��es de Lula, sobre a morte do prefeito de Santo Andr�. Disse Lula (Correio do Povo, 16 de janeiro, p�gina 2): "Ele (Celso Daniel) se encontrar� com Marighella, Guevara, Paulo Freire, Henfil, Betinho, Chico Mendes, Toninho e os sem terra...".

Dante Alighieri, naquela que � a mais admir�vel obra liter�ria da alta Idade M�dia – a Divina Com�dia – se deixa conduzir por Virg�lio e atravessa os nove c�rculos do Inferno, onde vai encontrando personagens da Hist�ria. Dali ele segue para a montanha do Purgat�rio, em cujo topo se encontra com Beatriz que o conduz, por fim, ao Para�so. Lula – cuida-te Alighieri! – fez o contr�rio. Deu uma espiada no Para�so e encontrou estes dois bem-aventurados construtores da paz - Guevara e Marighella - levados certamente � for�a para um lugar de cuja exist�ncia descriam. E al�m de uns poucos companheiros de partido n�o discerniu mais ningu�m.

Dize-me quem s�o tuas refer�ncias e eu te direi onde queres chegar (ou para onde queres me levar, se fores um l�der pol�tico). As refer�ncias de Lula, pronunciadas numa circunst�ncia em que a emo��o o afastou, por instantes, dos zelos de candidato, deixam muito claras, para mim, as suas inten��es. E seria absolutamente ing�nuo supor irrelevante essa comunh�o dos santos que ele escalou para acolher Celso Daniel na morada celeste. N�o, isso n�o � irrelevante.

Percival Puggina � arquiteto, pol�tico, escritor, presidente da Funda��o Tarso Dutra de Estudos Pol�ticos e de Administra��o P�blica.