Sapientiam Autem Non Vincit Malitia - Foto da águia: Donald Mathis Mande um e-mail para o Olavo Links Textos Informações Página principal

Leituras Recomendadas -128

 

PT colhe plantio

por Janer Cristaldo 

 

�Isso j� passou dos limites", disse o presidente Fernando Henrique Cardoso, comentando o assassinato do prefeito Celso Daniel. El�stica no��o de limites, a do presidente. Ocorreram 307 seq�estros em S�o Paulo, s� no ano passado. Quer dizer que quase um seq�estro por dia ainda n�o constitui limite? O brutal assassinato de uma senhora, liberada por seus captores e logo ap�s fuzilada pelas costas em frente � pr�pria casa, estaria ainda longe do limite? O narcotr�fico, que administra as favelas e determina dias feriados ou de luto, fechamento de escolas ou com�rcio, n�o seria um limite?

Ao que tudo indica, n�o. Pois, em sua magnanimidade, o pr�ncipe dos soci�logos tem uma generosa no��o de limite. Os seq�estros e assassinatos cometidos pelos terroristas que queriam transformar o Brasil em uma imensa Cuba, n�o s� foram anistiados como seus autores foram regiamente recompensados com cargos e polpudas aposentadorias. Sem ir mais longe, podemos come�ar por seu ministro da Justi�a, Aloysio Nunes Ferreira.

Membro do Partido Comunista Brasileiro, optou pela luta armada ingressando na Alian�a Libertadora Nacional (ALN), o grupo terrorista de Carlos Marighella, de quem era motorista. Marighella, se algu�m n�o mais lembra, � o autor do Manual do Guerrilheiro Urbano, traduzido em v�rias l�nguas na Europa e livro de cabeceira das Brigadas Vermelhas italianas e do Baader-Meinhoff alem�o. (Em Estocolmo, em plena social-democracia n�rdica, encontrei uma tradu��o do manual em sueco). Foi morto em 1969, em uma emboscada pela pol�cia e hoje � cultuado como santo pelas esquerdas.

Em agosto de 1968, Aloysio Nunes - de codinome Mateus - participou do assalto ao trem pagador da Santos-Jundia�. Em outubro, ao carro pagador da Massey-Ferguson. Ainda no mesmo ano, viajou com passaporte falso para Paris, onde passou a coordenar as liga��es de Cuba com os comunistas brasileiros. L�, filiou-se ao Partido Comunista Franc�s e negociou com o presidente Boumedienne, da Arg�lia, para que comunistas brasileiros recebessem treinamento militar naquele pa�s. Com a Lei da Anistia, de 1979, regressou ao Brasil, onde foi eleito pelas esquerdas deputado estadual, vice-governador e deputado federal. Amigo dileto de Fidel Castro, ap�s uma visita a Cuba no ano passado, o ditador foi ao seu embarque e o acompanhou at� o avi�o para as despedidas, em homenagem a seu passado revolucion�rio.

O agitprop internacional, assaltante e guerrilheiro, assecla de Marighella e �ntimo de ditadores, com o cinismo peculiar das esquerdas quando chegam ao poder, declarou recentemente � jornalista Ana Paula Padr�o:

�Em outros momentos - eu me lembro - no tempo do regime militar, os servi�os de repress�o puderam desmantelar o PCB, o PC do B, a ALN, a VPR, o MR-8. Ser� que n�o podem dar conta desses criminosos que hoje fazem seq�estros rel�mpagos e esse tipo de a��o?�

Poder, podem, Mateus. O problema � que quando estes grupos s�o desbaratos, os criminosos viram ministros.

N�o menos interessante � ouvir Fernando Henrique condenar seq�estros. Logo Fernando Henrique, que humilhou a na��o ante uma s�rdida campanha na imprensa internacional financiada por uma rica fam�lia do Canad� e avalizou a liberta��o de seus filhinhos seq�estradores, condenados pela Justi�a a quase tr�s d�cadas de pris�o.

Lula, o tetracandidato, foi correndo solidarizar-se com o entourage da v�tima e participou de uma marcha pela paz. Jos� Geno�no fala em Rota nas ruas e pris�o perp�tua. A multid�o de petistas que acompanhou o enterro do prefeito pede pena de morte. Um programa de seguran�a do PT assume um projeto novayorquino e neoliberal, a toler�ncia zero. Quem empunhava estas bandeiras h� quest�o de dois anos? Paulo Maluf, qualificado como fascista por empunh�-las. Acontece que as elei��es est�o a� e � preciso entrar em sintonia com o que eleitor pede.

Por ocasi�o do seq�estro de Abilio Diniz, outro era o discurso do tetracandidato. Apressou-se em intermediar as negocia��es entre seq�estradores e pol�cia, de modo a garantir a integridade f�sica, n�o do empres�rio, mas ... dos seq�estradores. Fernando Henrique Cardoso, mais seu ministro da Justi�a na �poca, Jos� Gregori, mais a Igreja, o PT e entidades ligadas aos famigerados Direitos Humanos empenharam-se com afinco na liberta��o dos canadenses. Quando o governo de um pa�s, o l�der da oposi��o e mais a Igreja lutam pela liberta��o de seq�estradores, qual mensagem recebe o grande p�blico? S� uma: seq�estro pode render lucros e permanecer impune.

Talvez o leitor contempor�neo j� nem lembre, mas foram as esquerdas que introduziram no Brasil esta modalidade. Em nome de utopias assassinas, come�aram a seq�estrar avi�es e diplomatas. Dialogavam n�o com pessoas, mas com Estados. Curvem-se as na��es ante o Brasil: seq�estro de avi�es tem patente tupiniquim, � achado genuinamente nosso. No curto per�odo em que estiveram na pris�o, os seq�estradores exerceram uma fun��o did�tica, ensinando suas t�cnicas aos presidi�rios de direito comum. E agora se queixam do progresso dos alunos.

A toler�ncia das esquerdas com o seq�estro sempre foi �bvia, pelo menos at� a semana passada. Algu�m ouviu algum dia o PT condenar as FARC colombianas, que fazem do seq�estro sua estrat�gia privilegiada de obten��o de fundos? Eu nunca ouvi. O que vi, isto sim, foi o governo petista ga�cho receber com tapete vermelho um bandoleiro das FARC. Que, n�o contente em ser recebido quase com dignidade de chefe de Estado, andou fazendo palestras em escolas Brasil afora, em comunidades administradas pelas esquerdas.

Os seq�estros do passado n�o constituem crimes para estes senhores. Neste ins�lito pa�s, onde os derrotados escrevem a hist�ria presente, s�o tidos como atos her�icos e patri�ticos. At� mesmo crimes horrendos tinham nobres conota��es. As vestais que hoje se chocam com a execu��o brutal de Celso Daniel, n�o manifestaram horror algum ante outra execu��o tamb�m brutal, a daquele infeliz soldado que Lamarca executou, prisioneiro e indefeso. Ningu�m, nas esquerdas, pediria pris�o perp�tua ou pena de morte para o assassino de um companheiro de armas. Pelo contr�rio, Lamarca hoje est� instalado na galeria dos Vultos da P�tria, gozando do mesmo status de um Tiradentes. Ningu�m, nas esquerdas, foi prestar solidariedade � fam�lia do soldado morto. Mas h� projetos de impor aos curr�culos escolares a vida e obra deste santo homem, capit�o Carlos Lamarca.

O pensamento de esquerda criou um caldo cultural onde criminoso n�o � mais criminoso, mas v�tima. Onde invasor de terras � her�i e o propriet�rio que as defende � bandoleiro. Onde Luis Carlos Prestes � beato e Che Guevara vira santo.

S�o chegados os dias de colheita.

 

25/01/2002