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Leituras recomendadas – 127

 

O PT e a violência

Maria Lucia Victor Barbosa
25 de janeiro de 2002

 

Analisar em profundidade a viol�ncia num curto artigo seria imposs�vel. Essa caracter�stica inerente ao ser humano demanda abordagens variadas que v�o das filos�ficas �s sociol�gicas, das psicol�gicas �s antropol�gicas. A viol�ncia pode ser estudada sob o �ngulo da hist�ria, do direito, da economia e para combat�-la o Estado se utiliza da lei e de v�rias de suas institui��es.

No Brasil as causas da viol�ncia s�o bastante variadas e as opini�es sobre elas tamb�m. H� aqueles, por exemplo, que apontam apenas a pobreza como fator desencadeante de atitudes violentas que se desfecham na criminalidade. Por�m � necess�rio dizer que, se o meio em que o pobre vive pode ser prop�cio ao banditismo, tanto n�o procede o entendimento de que ele � um criminoso nato quanto a tend�ncia de absolv�-lo a priori das penas previstas na lei quando comete um crime por consider�-lo v�tima da pr�pria sociedade.

Justamente comisera��es deste tipo t�m contribu�do para estimular a viol�ncia no pa�s, assim como a excessiva benevol�ncia para com os bandidos e seus direitos humanos em detrimento dos direitos do cidad�o comum. E isso, naturalmente, tem tudo a ver com a falha� da mais importante fun��o do Estado e em nome da qual esta institui��o foi criada: a seguran�a.

Poderia expor tamb�m an�lises referentes � urbaniza��o, desemprego, baixos n�veis educacionais e tantos outros fatores que possuem liga��o com a viol�ncia. Isto seria importante para uma compreens�o mais aprofundada do fen�meno, mas aqui vou apenas comentar a quest�o do PT e da viol�ncia, por conta do brutal assassinato do prefeito petista de Santo Andr� Celso Daniel, lembrando que antes dele Ant�nio da Costa Santos, o Toninho do PT,� prefeito deste partido em Campinas, tamb�m foi morto recentemente.

Em artigo publicado nesta semana no O Estado de S. Paulo, Frei Beto colocou Celso Daniel na �galeria dos �m�rtires da justi�a� que abriga �Jesus, Tiradentes, Gandhi. Guevara� Luther King, etc.�. O bondoso frei n�o mencionou o prefeito de� Campinas, nem aquela mulher que nesta mesma cidade foi seq�estrada e executada em frente a sua casa, nem a incalcul�vel multid�o de brasileiros que t�m sucumbido pelas armas de assassinos impunes e muito mais bem armados, treinados e motivados do que a pol�cia. Ali�s, o PT nunca se levantou a clamar em defesa das v�timas comuns, mas j� fez muito for�a para a soltura dos seq�estradores canadenses do empres�rio Ab�lio Din�s. Naquele epis�dio lament�vel havia tamb�m um membro do PT e o partido preferiu dizer que presen�a do seu militante era apenas uma trama para inviabilizar a vit�ria de Lula, ent�o em tr�nsito� por sua eterna carreira de candidato � presid�ncia da Rep�blica.

Quanto a Jos� Geno�no (SP) e a senadora Marina Silva (AC), agora se apressam a pedir a pris�o perp�tua para seq�estradores sem saber ainda se o prefeito foi realmente seq�estrado. Na verdade o caso continua nebuloso, especialmente por conta das vers�es contradit�rias de S�rgio Gomes da Silva que dirigia o Mistsubishi Pajero de onde Celso Daniel foi retirado para ser morto, sem que houvesse sido feito pedido de resgate.

Recorde-se tamb�m que num primeiro momento o PT e seu l�der Lula, apressaram-se a dizer que tudo n�o passava de crime pol�tico, insinuando que a responsabilidade seria de uma organiza��o de direita. Mas haveria uma organiza��o de direita t�o burra� a ponto de fornecer a um partido de esquerda, em plena largada de uma campanha eleitoral, o m�rtir, a bandeira ensang�entada (recorde-se Volta Redonda) que garantiria a vit�ria emocional do advers�rio ideol�gico? � de se duvidar. E para complicar aparece agora uma fantasmag�rica entidade de extrema esquerda denominada Frente de A��o Revolucion�ria Brasileira (Farb), suposta co-irm� da sang�in�ria Farc colombiana que o PT tanto exalta, e que se responsabiliza pelos crimes al�m de amea�ar pol�ticos petistas.

Mas o fato � que se o PT n�o pode ser responsabilizado diretamente pelas causas da viol�ncia no Brasil ou pelas mortes dos seus prefeitos, n�o deveria esse partido deixar de fazer uma mea culpa para avaliar o resultado do seu est�mulo � viol�ncia. Afinal, em junho de 1994, o candidato Lula declarou que n�o lhe interessava a lei mas o que ele considerava como justo e leg�timo. Esse discurso de tribunal de exce��o foi repetido por lideran�as petistas, inclusive, por seu problem�tico vice Jos� Paulo Bisol, que afirmou: �Quando o Estado n�o tem condi��o de coibir a viol�ncia, o povo tem direito a ela�. O problema � que a fra��o do povo que agora tem direito � viol�ncia diante da aus�ncia da lei, � aquela composta por fac�noras de toda esp�cie que est�o oprimindo o povo.

H� tempos o PT atrav�s da CUT � seu bra�o sindical � e do MST �seu bra�o armado no campo � tem desencadeando a viol�ncia que � colocada como legitima e se sobrep�e � lei. Tudo recheado com uma ideologia socialista que no mundo inteiro n�o deu certo.

Agora o PT sente os efeitos de um tipo de terrorismo depois de ter declarado que � contra o terrorismo, mas t�-lo justificado quando os seguidores do fan�tico Bin Laden atacaram os Estados Unidos.

Portanto, � hora do PT fazer seu ato de contri��o e de se perguntar qual � sua parcela de culpa diante da morte dos seus pr�prios companheiros. Conforme o ditado popular: �quem semeia ventos, colhe tempestades�.

Maria Lucia Victor Barbosa � soci�loga, escritora e professora universit�ria.

E-mail: [email protected]