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Leituras recomendadas – 123

 

Lições do Afeganistão

por Denis Rosenfeld
filósofo, professor da UFRGS

Correio Braziliense, 29 de dezembro de 2001

Reproduzido de:
http://www.diegocasagrande.com.br

 

A vit�ria dos americanos e de seus parceiros da Alian�a do Norte � surpreendente. Ningu�m podia prever, h� duas semanas, um desenlace t�o r�pido. No entanto, era j� vis�vel a determina��o dos Estados Unidos em levarem a sua a��o �s �ltimas conseq��ncias, ou seja, � destrui��o do regime talib� e � captura de Bin Laden e seus asseclas. N�o menor determina��o mostraram as tropas da Alian�a do Norte, conhecedoras do terreno e do tipo de domina��o exercido pelos talib�s e pelos ��estrangeiros��, isto �, as tropas �rabes, paquistanesas e outras do Al Qaeda.

A cautela, por�m, n�o pareceu orientar boa parte dos analistas brasileiros e, inclusive, europeus. Imediatamente, os antiamericanos de plant�o, que fazem dessa sua posi��o um substituto da queda do muro de Berlim, reagiram prontamente. Passaram, nas primeiras tr�s semanas, a condenar um bombardeio americano ent�o inexistente, o que assemelhava a cr�tica a um tipo de fic��o cient�fica. Quando os bombardeios come�aram, passaram a condenar o seu car�ter indiscriminado, como se o seu alvo fossem as popula��es civis, o que tampouco ocorreu. O que houve foram casos acidentais, causados por erros humanos ou tecnol�gicos, em todo caso de pequeno n�mero, inferiores aos acidentes de tr�nsito no Brasil. Os ideologicamente mais afoitos condenaram a a��o americana contra o ��povo�� afeg�o e apregoaram a ��solidariedade dos oprimidos��.

O regime afeg�o desmoronou como um castelo de cartas. As rendi��es e mudan�as de lado foram a regra. Os t�o decantados guerreiros praticamente n�o lutaram. Os l�deres fugiram e n�o se apresentaram como m�rtires, ao contr�rio da propaganda divulgada. Dentre as causas da derrocada, assinalemos duas: a) a superioridade militar americana, concretizada em sua for�a a�rea, em seus meios tecnol�gicos cada vez mais avan�ados e no trabalho, em terra, de seus servi�os de intelig�ncia. A conjun��o desses tr�s fatores exibe uma nova arte da guerra, cujos ensinamentos passar�o a orientar os estrategistas militares de todo o mundo; b) a falta de sustenta��o popular do regime talib�. Desabar como desabou mostra como esse regime se apoiava principalmente na for�a policial, no controle meticuloso da popula��o e na observ�ncia de certas regras religiosas. Essas regras nada mais eram do que um meio utilizado pelos talib�s para exercerem o seu poder, em nome de (seu) Deus.

Que crian�as n�o pudessem soltar papagaios, que mulheres n�o pudessem trabalhar, estudar, nem ter cuidados m�dicos, sendo obrigadas a vestirem burcas, nada disso parece ter afetado os nossos partid�rios do ��povo�� afeg�o. � medida que os ��combatentes�� talib�s fugiam, as mulheres come�aram a descobrir os seus rostos, algumas sendo mesmo conduzidas � posi��o de membros do governo provis�rio, inclusive a uma das vice-presid�ncias. Cinemas foram reabertos e a popula��o disputava lugares. A televis�o voltou a funcionar, tendo mulheres como apresentadoras. Os campos de futebol voltaram � sua fun��o original, ou seja, a de serem lugares onde se joga futebol, e n�o lugares de um ritual macabro de execu��es, mutila��es e (pseudo) julgamentos.

A dita solidariedade daqueles que se irmanaram ao ��povo�� afeg�o mostra-se mais claramente uma ��solidariedade�� com os opressores desse mesmo povo, desvelando, literalmente, o seu rosto. Um antiamericanismo a�odado, por�m meticulosamente pensado, apresenta-se mais uma vez, a exemplo de solidariedades passadas e mesmo presentes com a ex-Uni�o Sovi�tica, a China, a Alb�nia e Cuba, como um apoio irrestrito a b�rbaras formas de domina��o.

Por quem choram agora os nossos talib�s?