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Leituras recomendadas – 115

 

Por que Lula empaca?

Percival Puggina
27 de dezembro de 2001

 

Imagine se Lula não empacasse e ganhasse a eleição. No dia de sua posse, teríamos uma bandeira de Cuba hasteada na sacada do Palácio do Planalto, promoveríamos um coquetel de corpo presente para Bin Laden (chega de festejá-lo às ocultas) e iniciaríamos uma grande costura diplomática com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, com o governo Chávez, com o Exército Zapatista, com o Jihad e o Hezbollah e com todos os movimentos insurrecionais da esquerda latino-americana. Romperíamos com o FMI, claro. O Ministério do Exército seria anexado ao da Justiça e confiado ao dr. Bisol, que asseguraria proteção verde-oliva às tropelias do MST. O companheiro Marighella substituiria Caxias como patrono da instituição.

Teríamos o OP federal e as cartilhas do MEC. Entraria no ar, em cadeia nacional, o programa 'Palavra de Brasileiro', ou 'Brasil Vivo'. E - glória suprema! - mandaríamos embora não apenas a Ford, mas a Volks, a GM, a Fiat, a Peugeot, a Renault, a Mercedes-Benz, a Toyota e outras que nem elas. Promoveríamos fóruns mundiais sobre tudo e não resolveríamos coisa alguma. E o Congresso votaria uma alteração da matriz tributária por ano.

Cada agricultor que deixasse a terra seria substituído por um desempregado da cidade e assim faríamos, ao mesmo tempo, a maior reforma agrária e a maior reforma urbana do planeta. As rodovias federais seriam patrulhadas pelo olho ganancioso dos pardais e haveria parquímetros nos acostamentos e nos belvederes. Seria terminantemente proibido ocupar prédios da União, mas ficaria aberta a temporada de invasões em repartições estaduais sob governos oposicionistas. O partido do presidente, com tantos cargos à disposição em todo o país, criaria não um clubinho de seguros, mas fundaria o Grupo Cidadania, composto de seguradora, banco e financeira.

Faltou-me espaço e não tinta para pintar o quadro das razões pelas quais Lula corre na pista, mas não decola. É possível que você esteja julgando meio fantasiosa a cena. Nesse caso, vale a pergunta: se a descrição acima é delirante, como você qualifica o que está acontecendo no Rio Grande do Sul?